São Paulo, quarta-feira, 29 de maio de 1996
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Apelo de Montoro foi decisivo para convencer

CARLOS EDUARDO ALVES

CARLOS EDUARDO ALVES; GEORGE ALONSO; FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

Um apelo emocional do ex-governador e deputado federal Franco Montoro quebrou as últimas e poucas resistências do ministro José Serra para transformar-se no candidato do PSDB à prefeitura.
O apelo de Montoro ocorreu quase no início de uma reunião anteontem à noite no Palácio dos Bandeirantes. O governador Mário Covas e 17 outros tucanos conversaram das 21h30 à 0h40.
Estavam presentes todos os tucanos pretendentes à sucessão paulistana, os presidentes dos diretórios estadual e municipal e líderes das bancadas do partido.
Resposta a Maluf
Montoro foi escalado para convencer Serra devido à histórica ligação com o ministro. "O projeto nacional do PSDB passa por São Paulo e precisamos dar uma resposta a Maluf", disse o ex-governador, frisando que só Serra poderia viabilizar uma vitória tucana.
"O partido não pode esperar até 98", insistiu Montoro. O ex-governador argumentou ainda que o avanço do malufismo depois da aliança com o PFL paulistano poderia ter implicações desastrosas para os planos tucanos.
Outra linha da fala de Montoro apontou que os adversários do PSDB tentariam "nacionalizar" a eleição em São Paulo e que Serra seria o tucano mais apto a defender o governo FHC.
Sabedor que a prioridade de Serra era suceder Covas em 98, Montoro deu uma espécie de carta branca ao ministro.
"O Ciro Gomes ganhou a Prefeitura de Fortaleza em 88 e deixou o cargo para vencer a eleição ao governo do Ceará em 90", disse o deputado sugerindo o caminho.
Serra retrucou, bem-humorado, com o exemplo oposto. "O Pimenta da Veiga deixou a Prefeitura de Belo Horizonte e perdeu a eleição para o governo de Minas."
Serra ouviu, ainda, as ponderações de todos os pré-candidatos do PSDB sobre a conveniência de trocar o Ministério do Planejamento pela disputa eleitoral.
Covas relatou a conversa que tivera com Antonio Cabrera, do PFL paulista, e a consequente saída dos pefelistas em seu governo.
Outros tucanos argumentaram que o tempo de TV do PFL, negociado com o malufismo, não era indispensável a Serra, que já é conhecido pela população.
Lembrou-se até que ele, mesmo que o PSDB não faça alianças, terá mais tempo na TV que Luiza Erundina (PT) e Francisco Rossi (PDT), os atuais líderes na pesquisa.
Apesar de tudo, Serra ainda alimentou o clima de mistério. Insistiu em que não queria deixar o ministério e que estava na reunião apenas para auxiliar na busca de um candidato consensual.
Depois da intervenção de Montoro, quase todos os tucanos presentes ao encontro já trabalhavam com a certeza de que Serra aceitaria a candidatura. Muitos, aliás, desconfiavam que o ministro já entrara candidato na reunião.

Sopa de feijão Covas, sentindo que o terreno já estava amaciado, mandou servir uma sopa de feijão com macarrão e sanduíches, acompanhados de refrigerante ou água.
O governador, depois, chamou Serra para uma conversa a sós. Durou 15 minutos e Covas retornou com a senha do sim: "Teremos uma posição definitiva dentro de 24 horas", informou.
Serra saiu do Bandeirantes, foi para casa e telefonou para o presidente Fernando Henrique Cardoso, que estava em Paris.
A versão mais corrente no PSDB paulista é que, na conversa, Serra tentou acertar que seu substituto no Ministério do Planejamento seria Antônio Kandir.
Às 2h30, Covas foi acordado. Do outro lado da linha, o ministro informou que combinara com FHC o anúncio da candidatura.

Colaboraram George Alonso, da Reportagem Local, e Fernando Rodrigues, da Sucursal de Brasília

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