São Paulo, quarta-feira, 29 de maio de 1996
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'O Guarani' chega às telas na sexta-feira

OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO

"O Guarani", segundo longa dirigido pela atriz Norma Bengell, tem pré-estréia hoje, às 21h30, no Espaço Unibanco de Cinema, em São Paulo, e entra em cartaz em circuito nacional na próxima sexta-feira.
Baseado na novela de José de Alencar "O Guarani", de 1857, narra o romance entre Ceci, filha de um fidalgo português, e o índio Peri, no Brasil do século 17. O casal é vivido pelos estreantes em cinema Tatiana Issa e Márcio Garcia.
Filmado durante 11 semanas, teve orçamento de cerca de US$ 2,5 milhões. No elenco, estão Glória Pires, Marco Ricca, Herson Capri, José de Abreu e Cláudio Mamberti. Em entrevista à Folha, Norma Bengell fala sobre o filme.

Folha - Por que a sra. quis filmar "O Guarani"?
Norma Bengell - Esse é um trabalho de recuperação do público para o cinema brasileiro. O filme tem vários apelos. É uma viagem por um Brasil desconhecido: mostra a arquitetura do século 17, as reservas ecológicas do Rio de Janeiro, o parque nacional de Ubajara, no Ceará.
Além do apelo visual, também tem a música, composta por Wagner Tiso e executada por uma orquestra sinfônica. Por fim, quem não quer uma história de amor com final feliz?
Folha - Houve também a intenção de atingir o público externo?
Bengell - Fiz "O Guarani" para o público interno, de quem depende a recuperação do cinema brasileiro. Morei 15 anos no exterior e percebi que eles não se interessam pelo que é dos outros.
Folha - A sra. vê um renascimento do cinema brasileiro?
Bengell - Estávamos todos morrendo de vontade de trabalhar. Nós somos operários, acordamos às 4h30, no cinema ninguém é chique. Também acho que há vontade de reconstruir uma imagem positiva para o Brasil.
Com a regulamentação da lei do audiovisual, abriu-se a possibilidade de irmos atrás de recursos. Existem, no entanto, muitas dificuldades, como por exemplo na distribuição. Não faço parte do grupo do "oba-oba".
Folha - A sra. já se sente segura como diretora?
Bengell - Ainda não me considero uma cineasta, mas uma atriz. Estou em busca de algo que será o resultado de tudo que aprendi.
Folha - Quando está dirigindo, a sra. se lembra de algum cineasta com quem tenha trabalhado?
Bengell - A cena da morte de Isabel, fiz para Patrice Chéreau. Alguns pensamentos de Ceci e Peri são em homenagem a Walter Hugo Khouri, em "Noite Vazia".
Mas não penso em ninguém. Sinto medo, mas boto a câmera no coração e vou em frente.
Folha - O livro de José de Alencar romantiza o índio. Ele é bonito, valente. A realidade hoje é totalmente diferente. Isso não a incomoda?
Bengell - Não. Tive dúvidas de colocar um menino tão forte, mas no começo do Brasil os índios eram grandes, bonitos. Depois é que foram acabados. "O Guarani" é uma história de amor, uma lenda. Esse índio é um índio da minha fantasia e da de José de Alencar. Ele é o guardião do amor.

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