São Paulo, quarta-feira, 29 de maio de 1996
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Netanyahu afirma que saberá negociar

DO "HAARETZ"/"WORLD MEDIA"

Um estranho corredor com as paredes recobertas de cartazes de filmes leva ao escritório de Binyamin Netanyahu na "cidade do cinema" de Neve Ilan, onde ficam os estúdios do Likud. Um grande pôster do filme "Príncipe ou Sapo?" está pendurado na entrada de seu escritório.
Sete horas depois do debate, Netanyahu está convencido de sua vitória. Suas palavras e sua linguagem corporal transmitem a forte impressão de que ele realmente crê nisso. Perguntamos a Netanyahu: "Quem vai ganhar a eleição, o príncipe ou o sapo?".
Binyamin Netanyahu - Quem vai ganhar sou eu. Sinto isso. Se eu ainda tinha alguma dúvida disso, ela desapareceu depois do debate na televisão (realizado domingo).
Pergunta - Seria legítimo formar uma coligação para impedir a formação de um governo trabalhista?
Netanyahu - É claro que é uma iniciativa legítima. O dever da oposição é impedir a formação de um governo, mas, nas circunstâncias atuais, tal iniciativa não é prática. Quem for eleito estará em condições de formar um governo. É claro que ficarei contentíssimo se impedir os trabalhistas de apresentar um governo.
Pergunta - A qualquer preço?
Netanyahu - É uma pergunta hipotética, porque vou ganhar.
Pergunta - Em suas declarações recentes o sr. não excluiu a possibilidade de formar um governo de união nacional. O sr. estaria disposto a "guardar" cargos de gabinete para os trabalhistas?
Netanyahu - Sim. Se eu for primeiro-ministro, convidarei em primeiro lugar nossos parceiros naturais do setor nacionalista e religioso. Depois disso chamarei o sr. Peres e seu campo, sob a condição de aceitar nossos princípios.
Pergunta - O sr. inclui o Partido Moledet (que defende a transferência dos árabes) entre seus parceiros naturais?
Netanyahu - Se aceitar nossos princípios, sim. Tenho grandes problemas com a plataforma deles. A transferência dos árabes é tão negativa quanto a de judeus.
Pergunta - Os líderes árabes querem convocar uma nova reunião da Convenção de Madri.
Netanyahu - Não necessariamente iremos a Madri. O método de negociação com a Síria leva a uma capitulação ou a uma paralisia. Não quero nem uma coisa nem a outra. Numa nova reunião, eu proporia iniciativas que levassem a progressos, sem nos bloquear sobre os pontos sobre os quais não estamos de acordo.
Discuti esse modelo de negociações com o rei Hussein, que é favorável à formação de um quadro de segurança regional, no qual tomarão parte todos os países que participaram da convenção de Madri.
Pergunta - O sr. está disposto a declarar que não promoveria a retirada dos assentamentos no Golã?
Netanyahu - Os assentamentos não serão esvaziados, não haverá concessões territoriais. A Síria ainda não compreendeu que Israel não pode descer do Golã.
Contrariamente ao sr. Peres, não tremo diante da possibilidade de um "não" dos árabes. Adquiri uma experiência positiva com os árabes. Agora entendo que os sírios, os jordanianos e os palestinos estarão prontos para negociar comigo.
Pergunta - Mesmo seus partidários mais ferrenhos têm dificuldade em aceitar seu slogan "paz com Golã".
Netanyahu - O regime sírio é tão ditatorial que é impossível viver em paz sem conservarmos o Golã e o monte Hermon. Você pode receber um pedaço de papel que exprime uma paz oficial, mas continuar sem o conteúdo.
Ou, pelo contrário, pode-se avançar numa série de acordos nos campos da segurança regional e do combate ao terrorismo, prometendo aos sírios apagá-los da lista dos países que apóiam o terrorismo. Existem no mundo dois tipos de paz: a paz das democracias, que não exige proteção, e a paz diante de um regime ditatorial, que exige medidas de alerta.
Pergunta - O slogan "paz com o Golã" não é realista.
Netanyahu - Não estou dizendo que seja viável. Não estou dizendo que amanhã vou a Damasco dar um abraço no presidente Assad. Quando falo com os dirigentes árabes, em segredo, não tenho ilusões, porque digo a eles o que é possível para nós.
Pergunta - Um ano atrás, o sr. se pronunciou a favor das orações dos judeus no Monte do Templo, contrariando a política de todos os governos israelenses.
Netanyahu - É preciso diferenciar entre o desejo e as circunstâncias existentes de fato. É meu desejo ver os judeus orando no Monte do Templo, mas isso não significa que seja viável.
Pergunta - O sr. negociará o estatuto de Jerusalém com Arafat?
Netanyahu - Não, isso não consta de nossa agenda. Nada que foi assinado com respeito a Jerusalém será respeitado.
Pergunta - O sr. pretende continuar a aplicar o acordo de Oslo?
Netanyahu - Olho para o futuro. Tudo que já foi aplicado continuará vigente. Em seguida vamos propor autonomia generosa para os palestinos, sem poderes sobre a política externa e a segurança.
Pergunta - Há uma distância entre sua imagem "clintoniana" e sua visão apocalíptica do mundo.
Netanyahu - Não sou responsável por essa impressão. Acredito em um futuro brilhante. Às vezes me criticam por ser um robô calculado, outras vezes por ser precipitado. Creio que sou equilibrado.

Tradução de Clara Allain

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