São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 1996
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Edinanci vê 'preconceito' e quer casar

Atleta confirma tratamento

ADELSON BARBOSA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINA GRANDE (PB)

A judoca paraibana Edinanci Fernandes da Silva, 19, disse ontem em Campina Grande (130 km a oeste de João Pessoa, Paraíba) que pretende casar e constituir uma família, depois que voltar da Olimpíada de Atlanta.
Edinanci é candidata a uma medalha no judô feminino, na categoria pesado (acima de 72 kg).
Ela disse que já teve namorados, mas que agora está sem ninguém. "Com certeza, penso em fazer minha família", afirmou.
A judoca foi submetida a uma cirurgia para extirpação parcial do clitóris (clitoridectomia) e retirada dos testículos (orquiectomia).
O tratamento foi feito em Porto Alegre (RS), às pressas, porque a atleta corre o risco de ser reprovada em teste de feminilidade do Comitê Olímpico Internacional.
Edinanci reconheceu ter sido internada para tratamento médico, mas não quis falar sobre o assunto. "Fui internada, mas quem pode falar sobre isso são os médicos."
O urologista Walter Koff voltou ontem a confirmar a operação.
A judoca disse que ficou abatida com a repercussão do caso.
"Fico chateada, mas não deixo isso me abater. Psicologicamente, estou preparada, mesmo com os problemas", afirmou.
Edinanci não quis dizer quais são esses problemas, mas afirmou que isso nunca atrapalhou a sua vida afetiva e profissional.
"Não sou a única judoca com muita força física e músculos. As chinesas são muito mais musculosas e apresentam muita força. As holandesas, nisso, são mais fortes que eu. Esses problemas (ela não mencionou quais) não atrapalharam nem vão atrapalhar."
Edinanci acusou também "preconceito" da imprensa brasileira.
"Acho que ela fala demais. Talvez o preconceito ocorra por eu ser do Nordeste e pobre", declarou.
Em relação à sua ida a Atlanta, ela disse estar esperançosa.
"Fisicamente, sempre estive preparada. Estou me preparando desde 1995", afirmou.
A judoca disse que os brasileiros não devem colocar as esperanças de medalha no judô apenas nela. "Temos outras pessoas responsáveis no judô, que podem trazer medalhas para o Brasil. Eu não me considero a favorita", disse.
Questionada se outras judocas apresentaram objeções em disputar campeonatos com ela, Edinanci respondeu que sim.
"Algumas judocas fizeram. Outras não, por saberem que lá fora (no exterior) há judocas como eu."
Edinanci afirmou que, se ganhar uma medalha em Atlanta, vai iniciar um projeto com crianças de rua de Campina Grande.
"Há muitas medalhas no meio dessas crianças que vivem nas ruas. Elas só precisam de um empurrãozinho", disse.

Colaborou a Reportagem Local

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