São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 1996
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FHC DIXIT

A corajosa declaração do presidente Fernando Henrique Cardoso de que o desemprego deve ainda crescer surpreende. Afinal, governantes não costumam antever a desgraça dos governados. No limite até tapam o sol com a peneira, como aliás vinha fazendo o próprio FHC.
Ao mesmo tempo, a declaração preocupa, pois dá a entender que o mandatário máximo confessa grande apego ao arrocho dos últimos meses. Era de se esperar que as medidas recentes, de flexibilização do crédito ao consumo, trouxessem algum alívio. Pois é o presidente em pessoa que desaconselha esperanças.
O estreitamento das margens de lucro, a necessidade de trabalhar com estoques menores e, de maneira geral, agilizar a produção e a comercialização parecem ser mudanças que vieram para ficar. Há um aspecto positivo, pedagógico talvez, associado à manutenção de um ambiente extremamente competitivo. Para muitos, é a própria sobrevivência que está em jogo, num horizonte de tempo curto já que não há alívio à vista.
Mas uma dosagem excessiva de juros altos, contração do mercado e amplo favorecimento das importações pode obrigar a virtude a conviver com muitos e crescentes vícios. Para além de um dado limite, em vez de modernização o país pode deparar-se com o desmonte de setores inteiros. Noutros casos, fica-se obrigado a adotar medidas compensatórias (cotas, tarifas mais altas) que tendem a engessar os mercados.
Não existe receita simples de política econômica de modo a obter o melhor desempenho em termos de estabilização sem ao mesmo tempo provocar uma destruição indesejável tanto da estrutura produtiva quanto da eficiência dos mercados.
Embora seja agora o caso de buscar a chamada "sintonia fina", gerenciando os juros e as medidas de crédito de modo segurar a inflação, mas mantendo a economia à tona. Isso é mais fácil de falar que de fazer.
Ainda assim, a cada dia ganha força a opinião de que as medidas contracionistas do governo são excessivas. Adicionalmente, temporadas eleitorais costumam dar margem a políticas menos contracionistas.
Mas o presidente parece decidido a conviver com mais aperto, se necessário for. Resta esperar que a dosagem do remédio não mate o doente.

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