São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 1996
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Cheiro de velho

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - O político necessita de duas matérias-primas para erguer à sua volta um muro de prestígio: grandes atos e pequenos exemplos.
Tome-se o caso de Fernando Henrique. Planejava pendurar a gravata. Findo o mandato no Senado, deixaria a política. Escreveria um livro.
Sério, mãos limpas, idéias ajustadas, Fernando Henrique trazia o currículo salpicado de pequenos exemplos de boa conduta. A ausência do grande ato é que o conduzia precocemente à aposentadoria.
Súbito, feito ministro da Fazenda, urdiu o Plano Real. E foi como que reabilitado eleitoralmente. Ganhou a poltrona de presidente.
Esperava-se que transformasse o Planalto em usina de grandes atos. Não o fez. E, para complicar, começou a cair nas pequenas armadilhas próprias da administração pública.
Começou por dar emprego a uma filha no Planalto. Diz-se que cuida de sua agenda e correspondência pessoal. Um caso típico de filhotismo.
Agora, na viagem à França, faz-se acompanhar de vasta comitiva. Agenda frouxa, funcionários públicos flanam à custa do erário. A relação de convidados inclui, de quebra, outra filha de Fernando Henrique, além de dois netos.
Hospedaram-se na residência do embaixador brasileiro, também às expensas do Tesouro. Deslocam-se em automóvel oficial.
Ontem, perguntou-se ao chanceler Luiz Felipe Lampréia se não achava gorda a comitiva. O ministro disse que não.
Lampréia afirmou também que Bill Clinton faz-se acompanhar de grupo ainda mais expressivo em seus deslocamentos pelo mundo. Então, tá.
O voto em Fernando Henrique embutia o sonho de algo diferente. Os pecadilhos decerto não abalarão os cofres nacionais. Mas lançam o atual presidente na vala comum dos administradores que dão de ombros para o pequeno exemplo. Que não se reclame depois de queda nas pesquisas.

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