São Paulo, quinta-feira, 30 de maio de 1996
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Kandir sabe que FHC sabe

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Há cerca de dois meses, Antônio Kandir foi recebido pelo presidente da República no Palácio da Alvorada. São desses encontros particulares que FHC costuma manter com pessoas que tenham alguma coisa de importante para dizer.
Foi um encontro que durou cerca de duas horas. Metódico, Kandir gosta sempre de oferecer ao seu interlocutor uma espécie de menu daquilo que vai falar. Também foi assim na ocasião.
É comum Kandir responder a uma pergunta ou começar a falar sobre determinado assunto com a seguinte frase: "Há, pelo menos, quatro pontos mais importantes...".
Cuidadoso, nunca se perde. Discorre sobre os tais quatro pontos (ou seja lá quantos forem) até o fim. Nesse sentido, o novo ministro é uma pessoa de fala fácil, compreensível até para o mais leigo dos mortais em economia.
Essa sua habilidade serviu-lhe muito em março de 1990, quando teve de explicar para o Brasil o confisco da poupança. O autor do plano, Ibrahim Eris, não sabia falar português corretamente. Zélia Cardoso de Mello, a ministra da Economia, não entendeu direito o plano até hoje.
Mas, de volta à conversa com FHC de dois meses atrás. O presidente quis ouvir de Kandir uma análise da conjuntura.
O então deputado federal começou a falar. Falou e falou. FHC ouvia atentamente. E concordava com tudo. De repente, Kandir interrompeu sua exposição e pensou: "Para que estou falando tudo isso? O presidente sabe disso tudo. Ele sabe o que é preciso fazer na economia".
Naquele instante, nesse encontro de dois meses atrás, Kandir concluiu que o presidente sabe que os juros estão muito altos, que o país cresce pouco, que ajustes são necessários, que a taxa de câmbio não é a ideal etc.
Hoje, Kandir virou ministro. Sabe que FHC sabe o que ele pensa. E o que pretende fazer. E ainda dizem que o novo ministro não criará caso com Pedro Malan.

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