São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 1996
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Wilheim quer nova ação estatal

DO ENVIADO ESPECIAL A ISTAMBUL

A três dias do início da Habitat 2, o urbanista Jorge Wilheim, um dos idealizadores e organizadores do encontro, está bem otimista.
Secretário-geral-adjunto da Habitat 2, Wilheim viu nas reuniões preparatórias, realizadas durante os últimos dois anos, indícios de que esta não será mais uma conferência a ficar nas boas intenções.
Wilheim acha que o mundo está vivendo um período de transição, no qual o papel do Estado deve ser revisto. "O governo deve concentrar-se na elaboração das políticas públicas, que darão orientação maior às instituições setoriais, públicas ou privadas", diz.
Abaixo, trechos da entrevista de Wilheim à Folha, concedida ontem de tarde, em seu gabinete, em Istambul.
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Folha - Há razões para o otimismo ou a Habitat 2 vai ser mais uma conferência da ONU que não vai sair do papel?
Jorge Wilheim - Há razões para o otimismo. O processo preparatório demonstrou que a mobilização para a conferência ocorreu. O diálogo entre governos centrais, ONGs e autoridades locais está ocorrendo.
Folha - O que o sr. acha de os prefeitos terem representação na ONU?
Wilheim - Apóio. Não deve ser como a participação das nações, o que não teria sentido -e prefeito algum quer isso. Mas eles devem ter algum tipo de representação.
Folha - A possibilidade de as ONGs participarem da conferência e integrarem as delegações não enfraquece as próprias ONGs?
Wilheim - É um problema de perspectiva histórica. A razão de ser de uma ONG sempre foi ser contra o governo. Em muitos casos, foi extremamente positivo.
Mas, no fundo, o ideal é que o governo não tenha nada de criticável. Nesse quadro, as organizações não-governamentais precisariam se preparar para um novo papel.
Folha - Qual seja?
Wilheim - Vou citar o ministro Bresser Pereira. Ele diz que um organismo público não é necessariamente estatal. Uma universidade como Stanford (Califórnia), uma das mais importantes dos EUA, é pública e, do ponto de vista da gerência, é privada. Os fundos vêm do setor público e do privado. Uma ONG pode cuidar de importantes instituições públicas.
Folha - O sr. acha isso realmente possível?
Wilheim - Para tudo isso é necessário uma nova divisão do poder, ter a coragem de inovar e que o governo central assuma um papel novo, que é de concentrar-se na elaboração das políticas públicas, que darão orientação maior a essas instituições setoriais, públicas ou privadas.
Folha - A exibição de boas práticas urbanas é a maior inovação?
Wilheim - Normalmente, na ONU, você os textos até chegar ao consenso com 185 países. Muitas vezes se julga que não há nada de novo porque o texto que saiu da conferência parece antigo.

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