São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 1996
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Para comando palestino, ganhou "o Hamas deles"

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Reação alarmada da liderança palestina aos resultados de Israel: "Ganharam o Hamas e a Jihad Islâmica deles". A frase foi ouvida pela Folha junto ao círculo íntimo do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat.
É uma comparação entre os partidos religiosos israelenses, que tiveram excepcional desempenho eleitoral, e os dois grupos fundamentalistas islâmicos, responsáveis por boa parte dos atentados contra alvos judeus.
Oficialmente, a liderança palestina insiste na tese de que os acordos de paz foram assinados com o Estado de Israel, e não com esse ou aquele partido. Portanto, uma eventual troca de governo não deve alterar a essência.
Mas, nas conversas reservadas, a preocupação está voltada para a ascensão dos ultra-religiosos, pelo que revela de tendência ao radicalismo no futuro governo e na própria sociedade israelense.
"Se o Hamas tivesse obtido, nas eleições palestinas, a votação que os religiosos obtiveram em Israel, diriam que Arafat não controla a situação ou que os árabes são mesmo radicais", ouviu a Folha.
Entre a oposição a Arafat, o próprio Hamas, a reação foi ainda mais violenta: "A vitória do Likud é um declaração de guerra aos palestinos e árabes", disse em Gaza Razi Muhamad, dirigente do grupo. Para ele, ficou claro que "os israelenses não querem a paz".
Preocupação menor
A provável vitória de "Bibi" parece preocupar menos os membros da OLP, por duas razões:
1 - O comando palestino acredita que uma coisa é "a mercadoria que se vende nas eleições e, outra, os compromissos de Estado".
Traduzindo: talvez Netanyahu não possa ser tão radical como o foi na campanha. Por isso, a liderança palestina espera que Israel mude suas posições "em matizes, não em questões fundamentais".
2 - Yitzhak Rabin, como ministro de Defesa do governo de coalizão com o Likud, também era um superfalcão, "capaz de mandar quebrar ossos de palestinos". Depois, transformou-se no premiê que iniciou o processo de paz.
Comenta Ahmed Sobeh, ex-representante da OLP no Brasil e conselheiro de Arafat:
"Vamos ter de negociar com quem não conhecemos. É como um diplomata que se instala em Brasília. Leva uns três meses até ser convidado para as festas certas".
Fora do círculo dirigente, entretanto, há quem tema que os palestinos jamais sejam convidados para a festa certa.
Caso do analista político palestino Khalil al Chqaqi: "Com o Likud, será difícil para Arafat e a Autoridade Palestina manterem sua credibilidade e legitimidade". Motivo: "Bibi" descarta de saída um Estado palestino, o que é, afinal, o motivo da luta de Arafat e sua razão para negociar a paz.
(CR)

Com agências internacionais

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