São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Viúva de Rabin ameaça deixar Israel

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A JERUSALÉM

Mergulhada em profundo desgosto, Leah Rabin, a viúva do primeiro-ministro Yitzhak Rabin, assassinado em novembro passado após comício pela paz em Tel Aviv, ameaça deixar o país.
"Estou procurando minhas malas, pois sinto vontade de arrumá-las e deixar o país o mais depressa possível", desabafou Leah, depois de passar toda a madrugada acompanhando a apuração.
Antes mesmo de se desenhar um resultado favorável à direita, Leah não escondia seu incômodo.
"O quase empate é embaraçador e insultante", dizia, quando Peres tinha uma vantagem de apenas um ponto percentual.
A irritação da viúva de Rabin se iniciara, na verdade, no dia anterior, ao comentar o fato de que o assassino de seu marido, Yigal Amir, pudera votar. "É um escândalo sem precedentes", afirmou.
A rigor, Leah sente-se mal desde a campanha eleitoral, pois acha que o Partido Trabalhista usou pouco, em sua propaganda, o assassinato de Rabin.
Calou-se para evitar prejuízos eleitorais para o partido, mas, ontem, acabou admitindo que achara "um erro não ter feito muito uso daquela terrível morte".
Ela não se queixou do fato com Peres, alegando que não entende de estratégia eleitoral, mas, agora, não contém o desabafo.
"Acho que deveriam ter feito o máximo uso dessa morte. Afinal, eles mataram o primeiro-ministro". O "eles" é uma referência direta à direita, que claramente armou a mão do assassino de Rabin.
Só faltou mencionar diretamente "Bibi" Netanyahu, a quem Leah responsabilizou pela morte do marido, à época.
Para ela, o fato de "Bibi" ter acusado Rabin de "traidor", pelo acordo com os palestinos, criou um ambiente de exaltação em parte da sociedade, que acabou sendo o caldo de cultura para o atentado.
Tudo com a legenda: "Não deixem que ele vença".
Como se fosse pouco, para aumentar o desgosto da viúva e do grupo Cidadãos, o assassino está entre os "eleitores especiais" (soldados, presos, doentes, funcionários que trabalham no exterior).
Esses votos acabarão revelando quem será o substituto do premiê assassinado, e tudo leva a crer que o apelo do anúncio será contrariado.

Texto Anterior: Direita mantém slogan radical
Próximo Texto: Descontente, Clinton diz não temer Likud
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.