São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 1996
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CORREÇÃO POSSÍVEL

Os índices de inflação deixaram de ser notícia depois do Plano Real. Houve meses em que os preços registraram ligeiras altas, mas depois recuaram, ficando próximos de zero. As taxas de inflação deixavam de ser "inerciais", podendo subir e descer.
Entretanto, o assunto não deve ser enterrado precocemente. Afinal, sob o silêncio tanto do governo, como dos críticos, o que ocorreu nos últimos meses foi, de fato, uma impressionante correção de tarifas públicas. Nos primeiros quatro meses do ano os serviços públicos subiram 18,7%, enquanto a taxa de inflação ficou em 4,12%. Se fosse retirado o efeito das tarifas sobre a taxa, ela cairia pela metade, segundo a Fipe.
Nos quatro primeiros meses deste ano, a tarifa de energia elétrica acumulou reajuste de 26%; as tarifas telefônicas subiram nada menos que 84%; a gasolina, 13%; e o álcool, 13,95%. Espera-se para junho aumentos nos transportes públicos em São Paulo (um tarifaço no ABCD já ocorreu nos últimos dias).
Há um significado óbvio nesse tarifaço semiclandestino. O governo vitamina financeiramente as estatais, faz caixa para investimentos e, supostamente, prepara o terreno para privatizações mais lucrativas. Infelizmente, o governo não aumentou em nada a transparência da gestão do setor produtivo estatal.
Mas há também no tarifaço uma mensagem menos óbvia e talvez até mais importante. O próprio governo está demonstrando que é possível fazer correções significativas de preços relativos sem ocasionar impactos inflacionários insuportáveis.
Ora, se a técnica funciona para os preços públicos, que são estratégicos e atingem, de diferentes formas, toda a economia, possivelmente o mesmo possa ocorrer a outros preços estratégicos, como a taxa de câmbio.
Em algum momento, num futuro incerto, com as tarifas e os preços públicos já recuperados, alinhados ou mesmo com gordura, talvez fosse possível diminuir o atraso cambial que no passado ajudou a consolidar o Plano Real. O governo, sem dizer nada, está provando que, se em política econômica é dado errar, fazer correções também é possível.

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