São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 1996
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O DESAFIO DAS CIDADES

O mais significativo desafio para os participantes da Habitat 2 (Conferência de Assentamentos Humanos da ONU que discutirá, de 3 a 14 de junho em Istambul, propostas para o futuro da vida nos grandes centros urbanos) deverá ser o de evitar as tradicionais declarações genéricas de boas intenções que, na prática, tendem a se mostrar inexequíveis.
É decerto inquietante que por volta de 100 milhões de pessoas não disponham de qualquer forma de moradia e que 600 milhões vivam em condições insalubres. Porém o simples reconhecimento de que a moradia deve ser considerada um "direito do homem" contribuirá muito pouco para que o déficit habitacional seja efetivamente superado.
Embora a ONU já recomende que, nas cidades com mais de 7 milhões de habitantes, a taxa de crescimento demográfico anual fique sempre abaixo dos 5%, parece inevitável que essa recomendação permaneça estéril se não forem implementadas políticas públicas que estimulem a permanência das populações mais pobres, senão nas áreas rurais, pelo menos nas pequenas cidades.
Além disso, é hoje impostergável a discussão de experiências alternativas que envolvam propostas criativas, implementáveis a curto ou médio prazos e que não dependam necessariamente da disponibilidade de fundos de apoio por parte dos países desenvolvidos ou mesmo das organizações multilaterais, tais como o Fundo Monetário Internacional, o BID e o Banco Mundial.
Não se deve também ignorar, no caso do Brasil, a oportuna sincronia entre a discussão internacional do futuro das cidades e a proximidade das eleições municipais em todo o país. No inventário das decisões mais pragmáticas da conferência, é de se esperar que os candidatos encontrem propostas mais consistentes para cativar um eleitorado em grande parte já desiludido com promessas vãs.

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