São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 1996
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Liberou geral

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Na política como na vida, o casamento é uma instituição delicada. Mais ainda quando a união é movida apenas pelo interesse, como no caso de PSDB e PFL.
Essencialmente urbano e paulista, o PSDB casou-se de olho nos currais nordestinos e no cesto de votos do PFL no Congresso. Já o PFL queria o dote do real. Farejou na candidatura de Fernando Henrique o cheiro de governo.
Com o tempo, brotou na alma social-democrata do presidente uma ponta de afeto pelo pragmatismo liberal do parceiro. Fernando Henrique cansa de dizer que, quando a situação aperta, o PFL é mais fiel que o seu PSDB.
Pois justo agora, quando o casamento migrava para o campo sentimental, a aliança sofre seu maior abalo. O PFL busca nas principais capitais experiências extraconjugais.
Em princípio, os pefelistas queriam a felicidade conjugal a três. Em São Paulo, por exemplo, seria amante do malufista Pitta, mas não abandonaria Covas. Não fosse por Covas, não teria havido divórcio.
Consumada a separação, a tucanada começou a desancar o ex-cônjuge. Ouça-se, por exemplo, o que disse Franco Montoro aos jornais após a ruptura: "Estamos livres das negociatas que foram feitas para nos atrapalhar". Falta dizer que negociatas são essas.
Criou-se uma situação constrangedora para o PSDB. Em São Paulo, o partido pôs o PFL para fora de casa. Mas, em Brasília, continua dando-lhe casa, comida e roupa lavada.
A promiscuidade serve aos interesses do PFL. Se Pitta bater Serra, o partido terá em Maluf uma alternativa presidencial. Se Serra sair vitorioso, sempre se poderá dizer que a traição paulista foi isolada. É o melhor dos mundos. O PFL tem o direito de desfilar em carro aberto com a amante e ainda conserva o direito à herança que resultará do eventual sucesso do governo Fernando Henrique.

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