São Paulo, sábado, 1 de junho de 1996
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No caldeirão das bruxas

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Elementar respeito ao ofício me obriga a não meter a colher na política de outros Estados. Bem ou mal, fico mesmo pelo Rio de Janeiro -minha seara. Ver o panorama nacional daqui da Lagoa podia até ser distraído se não fosse o tédio, a fadiga que o fato político me provoca.
Contudo, vou me meter nessa escolha do ministro José Serra para candidato à prefeitura paulistana. Não tenho conhecimento de causa para analisar a sucessão de Paulo Maluf, mesmo assim gostaria de acentuar a complicada gestação de um esquema mais ligado à sucessão federal do que à municipal.
A impressão que se tinha era simples: nem amarrado, com a faca nas costas, o ministro aceitaria repetir uma candidatura que no passado lhe foi malsucedida. Todos sabemos que José Serra ambiciona o governo do Estado ou a Presidência da República. Uma derrota o afastará do seu sonho -por sinal, legítimo.
Vinte e quatro horas antes de aceitar a missão de sacrifício, o ministro jurava que não seria candidato. De repente, aparece vestido com a camisa de propaganda eleitoral, jurando que será eleito e que São Paulo conhecerá dias de glória sob a sua gestão -coisa que ele considera certa.
Houve lavagem cerebral ou serviço forte de macumba. Os sobas do PSDB, os mesmos que acusavam Quércia de fisiologismo e agora o praticam despudoradamente, desejam ficar no poder 20 anos -é o que dizem aberta e cinicamente.
Hitler falava no Reich de mil anos -era louco, mas não chegava a ser cínico.
Serjão fala em 20 anos -e a candidatura de Serra é rabo de lagartixa, fígado de morcego, olho de coruja e ovo de serpente que formará a poção mágica nesse caldeirão de bruxas.
Não acredito muito numa candidatura extraída a fórceps. Haverá composições daqui para a frente. Ao povo será servido o repugnante produto desse caldeirão.

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