São Paulo, sábado, 1 de junho de 1996
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Amor de predileção aos excluídos

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

O mês de junho é dedicado, nas comunidades católicas, a aprofundar o mistério do amor de Jesus Cristo ao pai e à humanidade. É, também, o tempo de repararmos nossas faltas e procurarmos agradecer pelo seu infinito amor.
A leitura meditada do Evangelho há de nos ajudar a compreender quanto Deus nos ama, manifestando em Jesus Cristo sua ternura e a incansável vontade de nos perdoar. O símbolo do coração de Cristo, aberto pela lança do soldado e difundindo chamas, que aquecem e iluminam, suscita em nós a certeza de que Cristo nos amou até a morte de cruz.
"Amou até o fim", afirma o evangelista S.João (Jo 13, 1). O coração visível de Cristo é a imagem viva da misericórdia divina, fonte de doação gratuita e perdão.
Convencidos de que Deus nos ama, somos convidados a acreditar no perdão dos pecados e a nos corrigirmos de nossas faltas, vencendo o egoísmo, e a imitar o amor de Cristo pelos gestos de doação, de bondade e de promoção do bem do próximo.
A devoção ao coração de Jesus Cristo deve nos levar a amar como Ele nos amou, incrementando a compreensão entre os esposos, o afeto pelos filhos, o carinho pelos idosos e enfermos, a reconciliação com os que nos ofendem e, em especial, a predileção pelos pobres e necessitados.
Jesus Cristo veio para dar a vida a todos (Jo 10, 10). No entanto, manifestou especial predileção aos que se encontram em situação de maior debilidade e carência. O amor da mãe a seus filhos, embora seja igual para todos, adquire expressões de maior dedicação, conforme as diversas carências dos filhos. O amor de Cristo, em primeiro lugar, dirige-se aos que estão em maior necessidade espiritual e material.
A exemplo do Divino Mestre, a Igreja procura levar à prática o amor preferencial pelos pobres que João Paulo 2º identifica como o "selo de fidelidade ao Evangelho". Os santos contemplavam o coração de Cristo para encontrar nele o exemplo e a força a fim de amar os abandonados, aflitos e os "últimos" da sociedade.
O apelo ao amor efetivo aos mais pobres e à promoção de condições dignas de vida torna-se mais presente hoje e especialmente na América Latina, onde a desigualdade social é fruto de injustiça estrutural e alcança proporções inaceitáveis.
São milhões de seres humanos que aguardam o reconhecimento e a promoção de sua dignidade por parte dos que crêem em Jesus Cristo e têm o dever de amar o próximo como Ele nos amou.
É, portanto, justo esperar que as comunidades cristãs assumam, com novo ardor, o trabalho em favor das populações indígenas, dos sem-terra, do povo da rua, da mulher marginalizada, dos migrantes e demais excluídos.
Quem ama com o coração de Cristo há de vencer a resistência do próprio egoísmo e indiferença, para descobrir no rosto dos sofredores o apelo a uma ação dedicada e eficiente por parte das comunidades.
Sem verdadeira estima pelos excluídos, a exemplo de Cristo, será muito difícil compreender a urgência da renúncia a privilégios, a partilha com os carentes e da distribuição equitativa da terra.
As reformas eficazes em bem do povo só podem nascer de um grande amor.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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