São Paulo, domingo, 2 de junho de 1996
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Jeitinho brasileiro decide impasse

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O famoso jeitinho brasileiro poderá pôr fim a uma das maiores polêmicas da Habitat 2: a inclusão ou não da expressão "direito à moradia" na carta de intenções da conferência, que deve ser assinada pelos participantes.
O Brasil coordenou os debates sobre esse tema no 3º encontro preparatório em Nova York (EUA), em fevereiro passado.
No início, muitos países (inclusive o Brasil) apresentaram resistência ao uso da expressão "direito à moradia", com medo de que a população cobrasse do governo esse direito na Justiça.
Segundo a diplomata Marcela Nicodemus, relatora do parágrafo que trata do assunto, o Brasil mudou de idéia durante o encontro preparatório de Nova York.
"Durante os debates, concluímos que o direito à moradia é um direito de natureza programática, ou seja, será obtido progressivamente e não pode ser cobrado na Justiça", afirmou Nicodemus.
A argumentação da delegação brasileira terminou convencendo outros países que eram contrários à colocação do direito à moradia no texto da Agenda da Habitat 2.
A mudança de opinião foi possível graças à inclusão da palavra "progressivo". "Nenhum governo tem condições de eliminar o déficit habitacional de uma hora para outra", disse.
Quando os países membros da ONU não conseguem chegar a um consenso sobre um tema, o texto fica entre parênteses. Isso significa que ainda terá que ser discutido antes da aprovação da versão final.
Cerca de 40% do texto da Agenda da Habitat 2 ainda está entre parênteses porque não foi possível chegar a um acordo nas reuniões preparatórias -três ao todo.
Cooperação Internacional
O tema mais polêmico da conferência não é o direito à moradia. É a cooperação internacional. O assunto coloca em campos opostos os países em desenvolvimento e as nações ricas.
O motivo da polêmica é a ajuda financeira. Os países pobres querem a criação de novos recursos financeiros para a resolução dos problemas urbanos.
Os países ricos não concordam com a criação de "novos" recursos e recomendam a relocação dos recursos já existentes para as áreas mais carentes.
No último encontro internacional preparatório da conferência, em Nova York, não houve nenhum avanço no capítulo de cooperação internacional. O texto está todo em parênteses e só será debatido a partir de amanhã, em Istambul (Turquia).

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