São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996
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Deputados zelam por 'distritos informais'

LUCIO VAZ E WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Deputados eleitos pelo "sistema distrital informal" admitem que precisam apresentar emendas para seus redutos eleitorais como forma retribuir o apoio das urnas.
O deputado Antonio do Valle (PMDB-MG) explica a sua atuação: "No meu caso, fiz um distrito. Sofro a pressão dos municípios. Essas obras têm um apelo forte. Servem como alavanca. A gente não pode negar".
Ex-prefeito e candidato a prefeito de Patos de Minas, onde obteve 80% dos seus votos em 94, afirma que esse "é um problema cultural". "O eleitor traduz a eficiência do deputado pelo valor das obras que ele leva para lá."
O deputado Dilso Sperafico (PMDB-MS), eleito pela região sul do Estado, se diz "praticamente distrital". Ele procura atender a seu reduto eleitoral com emendas ao Orçamento da União. Diz que o retorno é certo.
"A gente chega lá e diz: 'Consegui dinheiro para um hospital, para uma escola'. Isso é bom para a gente politicamente."
Enio Bacci (PDT-RS) foi eleito por 31 municípios do Vale do Taquari. Ele afirma que a maioria dos deputados já é distrital. "As eleições já fizeram isso."
Bacci afirma que as emendas ao Orçamento são uma forma de retribuição aos eleitores: "É um orgulho o deputado dizer que tem recursos para estradas, saneamento básico. Essas emendas geram um impacto muito grande".
Jogo do bicho
Edson Ezequiel (PDT-RJ) obteve 40 mil dos seus 53 mil votos em São Gonçalo, onde é candidato a prefeito. Ele aprovou 9 de suas 10 emendas para obras sociais no município. Explica que não pode fugir a essa prática.
"O povo não tem muita noção de qual é o verdadeiro papel do deputado. Fiz a lei 8.666 (licitações). Eles acham que isso é jogo do bicho. Isso é nada para a maioria do povo. Eles perguntam: 'O que o deputado está fazendo por nós"'.
Eleito com 26 mil dos seus 37 mil votos em Nova Iguaçu (RJ), Fernando Gonçalves (PTB) aprovou sete emendas para o município. Ele afirma que esse trabalho tem retorno eleitoral.
"O povo sente que a gente está trabalhando para eles. A gente precisa mostrar que não está aqui por acaso, que está preocupado com a base eleitoral que nos colocou aqui", diz.
O mesmo pensamento é repetido por Leonel Pavan (PDT-SC), que teve 32 mil dos seus 48 mil votos na região do Vale do Itajaí.
"Você assume o compromisso de ser o representante da localidade. Tenho de lutar para ter recursos para lá", afirmou.
O deputado Marcelo Barbieri (PMDB-SP), candidato a prefeito em Araraquara, disse que, há cinco anos, faz emendas ao Orçamento pelo "critério distrital".
"Busco apoiar a minha região. Fui eleito por ela", disse Barbieri, que recebeu 90% dos votos em dez municípios vizinhos.

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