São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996 |
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Acordo PPB-PFL é arranjo impublicável, diz Montoro
GABRIELA WOLTHERS
Hoje deputado federal, Montoro, 79, marcou seu retorno à política nacional ao desempenhar papel decisivo na articulação que convenceu José Serra a disputar a prefeitura paulistana. Nesta entrevista, Montoro revela como derrubou a resistência do então ministro do Planejamento. Folha - Como o senhor convenceu Serra a disputar a prefeitura? Franco Montoro - Coloquei o problema da sucessão municipal em termos mais altos. Em primeiro lugar, a importância de vencer a eleição na maior cidade do país. O segundo ponto colocado foi o conceito de política em termos de serviço público e não de interesse pessoal e, portanto, a responsabilidade social de uma decisão. Em terceiro, afirmei que a recusa à candidatura representaria um desaponto e um não-atendimento de uma exigência, uma reivindicação que vinha das bases do PSDB. A candidatura foi colocada nos termos de convocação e de dever. Tínhamos que jogar com os melhores quadros do partido. Folha - Chegou a ser colocado que uma recusa de Serra agora poderia fechar as portas do partido para futuras candidaturas dele? Montoro - Foi dito que o desaponto do partido poderia trazer como consequência uma dificuldade para futuros pleitos. Mas o argumento mais importante foi que ele tem todas as condições para ganhar. Foi dito que, se ele perdesse, teria milhões de votos e estaria naturalmente pré-lançado candidato a governador. Folha - O que o sr. quis dizer quando afirmou que quis colocar a sucessão em termos "mais altos"? Montoro - O jogo político fica muito nas considerações menores de vantagens pessoais ou partidárias. O importante é colocar num plano mais elevado a discussão. Preferi colocá-la no atendimento de uma reivindicação da população, esse é o dever do político. Folha - Pensei que o sr. estava se referindo à coligação do PFL com o PPB... Montoro - Digamos que o arranjo feito entre o PFL e o PPB em São Paulo não é um acordo publicável. Mas não gostaria de falar sobre isso. Folha - Mas a candidatura Serra foi, em certa medida, uma resposta à coligação? Montoro - Foi seguramente uma resposta, é claro. Tudo indicava que o PFL acompanharia nossa indicação. A decisão do PFL de apoiar o PPB precipitou uma tomada de decisão do PSDB. O PSDB tem todas as condições de lançar sozinho um candidato. É claro que estamos abertos a entendimentos com quaisquer partidos. Folha - PSDB e PFL serão adversários nas campanhas das principais cidades, como São Paulo e Rio. Esse quadro pode trazer consequências no âmbito federal? Montoro - Acho que contribuirá no sentido de se distinguir bem as posições, o que não impede que se mantenha um entendimento no governo federal para a execução de um programa definido na campanha de Fernando Henrique. Folha - O PSDB considera importante essa distinção? Montoro - Essa distinção é importante para deixar claro que somos partidos com posições fundamentalmente diferentes. Isso é claro. E é bom que a opinião pública perceba essa distinção, o que não impede que haja entendimento entre os dois partidos. O PFL tem como programa o liberalismo -o livre mercado- e o PSDB tem como fundamento o social, a solidariedade. O PSDB não tem como base nem a indiferença liberal nem a agitação e a luta de classes. Folha - Então, apesar das diferenças, o sr. considera que o acirramento das disputas municipais não deve levar a um distanciamento entre os dois partidos? Montoro - A posição do PSDB pela linha social e de solidariedade vai ficar mais marcada com essas candidaturas. Mas isso é um acidente. A questão é municipal e nada impede que haja entendimento entre os dois partidos no governo federal. A aliança se faz entre partidos diferentes, isso é normal. Folha - Mas o governo FHC está sendo apontado mais como liberal do que "solidário". Pode haver uma reviravolta? Montoro - Não é justa esta afirmação. O governo FHC, ao contrário do que se diz, tem feito reformas sociais da maior importância. O Plano Real não é só um plano econômico, é um plano de significação social. Com a estabilidade, ele deslocou milhões de reais para a classe trabalhadora, pois foi eliminado o imposto inflacionário. Por outro lado, no plano da educação, o ministro Paulo Renato Souza está realizando um trabalho de descentralização da merenda e do livro escolar, assegurando uma remuneração para os professores, todos estes programas com uma grande significação social. Fala-se muito no desemprego. O desemprego é um fenômeno mundial. E estamos tentando combater com programas como o incentivo à agricultura familiar. Mas isto não tem divulgação. Folha - Pelo visto, o sr. concorda com a tese de que está havendo problemas de comunicação... Montoro - Concordo. E depois, é um vício criticar. Na França, Fernando Henrique realizou entendimentos da maior importância. As ligações que estão sendo feitas com a França nos libertam de uma dependência com relação aos EUA. Mas o que sai nos jornais é o fato de ele ter levado o neto para a viagem. São coisas pequenas. Folha - Vários políticos tucanos que hoje têm expressão nacional participaram de seu governo em São Paulo. O sr. se considera um conselheiro de todos? Montoro - Com a nomeação do Antonio Kandir, já são oito ministros que ocuparam ou ocupam postos no governo FHC. Isso me gratifica e até me emociona. Foi uma semente que lançamos, de descentralização e de democracia. Folha - Já que Serra foi um desses políticos, qual o conselho o sr. daria para a campanha municipal? Montoro - São Paulo não é uma cidade. É um conjunto de cidades. O fundamental é a divisão em subprefeituras e a criação, em cada uma delas, de um conselho com representantes da população. Serra também dará ênfase à criação de emprego. A pequena empresa tem que ser estimulada, assim como a agricultura familiar, cooperativas e turismo. Será dada prioridade para a construção de habitações, uma fonte multiplicadora de empregos. Por fim, dar prioridade à educação para o trabalho e aos cursos profissionalizantes. Texto Anterior: Cacoete de político Próximo Texto: "Não entendi", diz Cabrera Índice |
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