São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996
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Desemprego agrava caos urbano

GILBERTO DIMENSTEIN
MAURICIO STYCER

GILBERTO DIMENSTEIN; MAURICIO STYCER
ENVIADOS ESPECIAIS A ISTAMBUL

Estudo da ONU alerta que é preciso criar 1,2 bilhão de empregos até o ano 2025

Sem combate ao desemprego, as cidades terão ainda mais dificuldades de resolver seus problemas urbanos, agravando as condições de moradia e criminalidade, disse ontem, em entrevista à Folha, Wally N'Dow, secretário-geral da Conferência de Assentamentos Humanos da ONU, que começa hoje em Istambul, na Turquia.
"Sem emprego, as cidades não funcionam. Quando as pessoas não têm como ganhar dinheiro ou ganham muito mal, impulsionam a favelização e a deterioração do meio ambiente", acrescentou.
N'Dow recebeu documentos preparados por economistas e técnicos da ONU indicando que, até o ano 2025, a força de trabalho no mundo vai aumentar em mais de 1,2 bilhão de pessoas.
Segundo o secretário-geral da Habitat 2, o desemprego é uma fonte de preocupação dos governantes de países pobres, mas também dos desenvolvidos: ele prevê que, mesmo com novas restrições legais, continuará havendo um grande fluxo de imigrantes da Ásia e da África em direção à Europa.
Os europeus, na sua opinião, entendem esse fenômeno. Nesse século, milhões deles cruzaram o oceano em busca de empregos. "Quem não tem emprego não vê fronteira."
"O que mais as cidades precisam são empregos. E é o que cada vez menos as cidades têm", disse.
O desemprego é mais um ingrediente explosivo na crise urbana no Terceiro Mundo.
Rumo às cidades N'Dow lembra que o fluxo do campo para as cidades não pára, reproduzindo o mesmo ritmo que as nações industrializadas conheceram no passado.
"Cidades triplicam em menos de uma geração", afirmou.
Depois do ano 2015, de acordo com estimativas da ONU, haverá nas cidades 5 bilhões de pessoas; 80% vão estar no Terceiro Mundo, onde há poucos recursos para investir em educação, saúde e habitação.
Bombaim, na Índia, vai ser a cidade mais populosa do planeta e São Paulo uma das dez mais.
"As cidades não estão preparadas para receber esse fluxo", disse N'Dow. Já existem, hoje, 600 milhões vivendo em habitações precárias.
Ele enfatizou que, por causa dessa precariedade, com níveis ruins de saneamento básico, 10 milhões de crianças morrem por ano prematuramente. "São fenômenos que os brasileiros conhecem muito bem", comentou.
"Espero que essa conferência sirva para sensibilizar o mundo e, em especial, os países ricos para o drama das cidades e, a partir daí, para a busca de soluções", disse, manifestando sua preocupação com as disputas de bastidores entre Norte e Sul.
Embora não detalhe os mecanismos, N'Dow defende apoio maior para a reciclagem e reordenamento das cidades. "Pessoas do Terceiro Mundo insistem muito em ajuda financeira. Mas existem soluções alternativas também."
Essa "soluções alternativas" poderiam ser ajuda dos países ricos para a transferência e aplicação de tecnologia em áreas como agricultura, meio ambiente, indústrias não-poluentes ou energia.
"Os mais modernos centros de pesquisas estão nos países ricos", disse.
Os governantes de nações pobres deveriam se esforçar para valorizar seus escassos recursos, apostando em projetos baratos e de alta eficiência.
Daí, na sua opinião, a importância de a Habitat 2 estar exibindo projetos bem-sucedidos de todo o mundo.

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