São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996
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O brinquedo mundial

HELCIO EMERICH

Ao expandir seus mercados na onda da globalização da economia, os fabricantes e as grandes cadeias de lojas americanas do setor de brinquedos descobriram que as crianças não são iguais em todo o mundo.
Pode parecer óbvio, já que também os consumidores adultos, de nacionalidades diferentes, nem sempre reagem de maneira uniforme em relação aos chamados "produtos globais".
No caso das crianças, entretanto, há peculiaridades curiosas, reveladas por estudo realizado em 95 pela "The Economist Intelligence Unit", da Inglaterra.
Na União Européia, onde o negócio dos brinquedos movimenta US$ 16,7 bilhões por ano, a criança -por viver em famílias mais bem estruturadas do que as norte-americanas e contar com menores espaços públicos- tende a ser mais disciplinada, com menos liberdade para brincar e para escolher produtos ou marcas.
Em compensação, os baixos índices de natalidade na Europa acabam resultando em maior consumo "per capita", com alguma preferência para os itens mais caros (em 95, em Londres, visitando a Hamley, a maior loja de brinquedos do mundo, notamos que eram comuns produtos com preços na faixa entre US$ 75 e US$ 500).
As influências socioculturais se refletem nas vendas de determinados produtos, que podem fazer sucesso no mercado norte-americano, mas encalhar em outros países. Os brinquedos e jogos para meninos predominam, por exemplo, no mercado asiático.
Na Europa, a rede de lojas Fisher-Price teve experiência negativa com dois brinquedos que estouraram nos EUA, um minicortador de grama e novo tipo de soprador para fazer bolhas de sabão; as crianças européias simplesmente não acharam a menor graça nas duas novidades.
Uma versão da Barbie, vendida na Europa com o nome de Barbie Weekend, ficou estocada nas lojas até que os marqueteiros da marca concluíssem que o problema estava na vestimenta da boneca (estampada com a bandeira norte-americana). Trocada a roupa, as vendas decolaram.
As variações de um país para outro no que toca ao comportamento e às expectativas dos miniconsumidores, seja pela orientação familiar, seja pela formação escolar ou religiosa, não chegam a tirar o sono dos fabricantes.
A Mattel mantém sem adaptações regionais 90% da sua linha de produtos, mesmo correndo o risco de insucesso com um ou outro item. O mesmo acontece com a única rede verdadeiramente pan-européia de brinquedos, a norte-americana Toys R.
Para esses gigantes, as vendas de brinquedos estão definitivamente atreladas à evolução da eletrônica (os videogames já representam um quarto do mercado europeu), aos lançamentos editoriais (cartum, história em quadrinhos) e a toda a parafernália de merchandising produzida pelo cinema e pela televisão.
Para aproveitar esse filão, o que importa é a velocidade na renovação de suas linhas de produtos com a constante oferta de novidades, algo semelhante ao que ocorre no mundo da moda.

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