São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996 |
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ÍNDIAS Há de comum entre o Brasil e a Índia mais que um passado colonial. Os dois procuraram, ao longo do século 20, dar saltos econômicos promovendo o desenvolvimento amparado na força do Estado. Nos dois casos pode-se considerar a experiência bem-sucedida: tornaram-se grandes economias emergentes, disputando espaço no comércio internacional de manufaturas e apoiando programas domésticos de desenvolvimento tecnológico. Politicamente, apesar das muitas diferenças, pode-se ressaltar também uma similitude de fundo: nos dois países houve no pós-guerra democracias sustentadas por uma elite social e por burocracias estatais. Os terríveis efeitos do esforço, entretanto, fazem-se notar hoje tanto lá como cá. Claro que não se pode justapor o sistema de castas com os desdobramentos da sociedade escravocrata brasileira, nem o esteio milenar da cultura hindu com a "macunaimice" recente do Brasil. Mas entre os párias da Índia e os excluídos do Brasil há uma miséria comum que até agravou-se com o desenvolvimento industrial e a estatolatria. E se lá os conflitos étnicos são sangrentos, aqui as disparidades regionais e a herança colonial deixaram também marcas profundas e sangrentas sobre negros e pobres. O fim da hegemonia de 40 anos do Partido do Congresso, na Índia, pode ser comparada à crise de hegemonia política em que se debate o Brasil desde o fim do regime militar. Nos dois casos é difícil a transição para uma democracia que enfrente as forças centrífugas do regionalismo, do corporativismo, da corrupção e dos interesses sectários. Há também as contradições entre um amplo programa de reformas econômicas liberalizantes e as realidades sociais subjacentes. Lá, como cá, mudar o Estado e as instituições econômicas é difícil, lento e arriscado. Debate-se nos dois países a questão da velocidade das reformas e, nos dois casos, vai-se aprendendo a conviver com uma lentidão exasperante. Texto Anterior: AGENDA COMPETITIVA Próximo Texto: Eleitor não é automóvel Índice |
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