São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996
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Eleitor não é automóvel

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Atenção, eleitor. Lá vêm eles de novo. Os candidatos logo invadirão a sua TV. A lei faculta-lhes o direito de falar. Mas, atenção, também temos o direito de não levá-los a sério.
Em São Paulo, não falarão pouco. Celso Pitta terá 28 minutos e 27 segundos; João Leiva, 17 minutos e 29 segundos; José Serra, 15 minutos e 6 segundos; Luiza Erundina, 13 minutos; e Francisco Rossi, 8 minutos e 47 segundos.
A presença de Serra, já se disse à exaustão, conectará a eleição paulista a Brasília. Transformará o pleito local em prévia das eleições presidenciais, em plebiscito do Plano Real.
Assim, é muito provável que os candidatos concentrem-se em temas como desemprego, salário mínimo e juros altos. Assuntos tão importantes quanto inúteis.
A possibilidade de um despacho de prefeito influir nos rumos da economia é tão real quanto as chances de o presidente Fernando Henrique Cardoso assinar um ato de renúncia.
Convém, portanto, deixar a sala no instante em que estiverem falando de geração de emprego, arrocho salarial e política monetária. Volte quando ouvir algo a respeito de buracos de rua ou coleta de lixo.
Deseja-se um bom prefeito? Pois não serão outros os temas aos quais deverá dedicar-se. Não se imagine que são assuntos secundários. Não há maior erro. Sobretudo para um morador de São Paulo.
Dedique especial atenção aos que prometerem rasgar avenidas, abrir túneis. Negue-lhes o voto. A razão? Ora, simples. Quando se tenta dirigir em cidades como Paris e Londres, logo se descobre que ter carro é um mau negócio. Opta-se pelo o ônibus ou pelo metrô.
Guiar nas ruas de São Paulo conduz à mesma conclusão. Com a diferença de que não se tem um sistema decente de transporte público ao qual se possa recorrer. Uma decorrência da ação de prefeitos que agem como se governassem para automóveis.

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