São Paulo, segunda-feira, 3 de junho de 1996
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A vontade do triunfo

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - No mesmo dia em que FHC, semana passada, atacou o Judiciário, dois jornalistas baixaram o pau no Congresso. Paulo Francis e Arnaldo Jabor são entusiastas do governo: tal como Serjão, eles devem achar que o atual bando no poder, no poder deve permanecer vinte anos.
Não chegaram a desejar um Reich de mil anos: Paulo e Jabor merecem viver muito. São os primeiros a saber que não chegarão a tanto. Vinte anos está bom para eles. Dá para o gasto e para armar uma caricatura da eficiência que encontrou no nazismo seu modelo notável -embora a um preço que a humanidade não deseja mais pagar.
Paulo despreza o poder, tanto ou mais do que eu. Sua admiração por FHC é de ordem intelectual, social, estética, sei lá, gosta do homem e pronto, é um puro no melhor sentido. Para uso comum, é também amigo fiel, sabe ser grande -e gosto dele, além e acima de divergências que ele e eu consideramos menores.
Jabor é diferente. Originário do meio cinematográfico, como alguns outros cineastas vive em "stand by" à espera de um regime político que o transforme numa Leni Riefenstahl, aquela do "Triumph des Willens", com produções fartas e esquema de distribuição seguro. No recente caso criado com os congressistas, ele teria maior autoridade se não houvesse, dias antes, participado de uma badalada e inútil reunião do Planalto.
Não acredito que tenha tomado qualquer compromisso com FHC. Faria o que está fazendo de graça, por amor à arte. Mas um jornalista que frequenta o poder é sempre suspeito -seja qual for o tipo de poder, seja qual for o tipo de frequência.
Antes que a briga esquente: Congresso e imprensa são poderes desarmados, pluralistas, sujeitos aos mil acidentes da carne. O importante é que o Congresso não pode ser fechado nem a imprensa amordaçada. Conviver com as misérias de um e de outra é melhor do que a mais eficiente e modernosa ditadura.

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