São Paulo, terça-feira, 4 de junho de 1996
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Para Serra, desemprego não vai 'piorar'

ANDRÉ LAHÓZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Candidato do PSDB em São Paulo afirma que ajuda a bancos promovida pelo governo federal é necessária

O ex-ministro do Planejamento e candidato à Prefeitura de São Paulo, José Serra, acha que o desemprego apenas "vai parar de piorar" a partir de agora, com a reativação da economia.
Para Serra, 54, somente em um segundo momento haveria aumento do emprego.
Procurando rebater as críticas feitas ao governo FHC, o ex-ministro afirma serem "mitos" o gasto menor do governo FHC na área social, a lentidão das privatizações e o relacionamento tenso entre ele e o ministro Pedro Malan (Fazenda) durante sua gestão.
Leia os principais trechos da entrevista exclusiva à Folha, concedida em sua casa em São Paulo. O novo ministro da Fazenda, Antonio Kandir, acompanhou parte da entrevista enquanto aguardava para conversar com Serra.
*
Folha - Qual é a sua opinião sobre o nível atual dos juros?
José Serra - A taxa básica de juros caiu bastante. No ano passado, foi efetivamente alta -33% em termos reais. Mas no primeiro trimestre deste ano já havia declinado para 19%. Há espaço para um pequeno decréscimo.
Para o tomador final, a queda foi menor. O problema é a atitude de retranca dos bancos, pelos problemas no sistema financeiro e a inadimplência dos consumidores.
Folha - A inadimplência não é responsabilidade do governo?
Serra - É resultado do maior endividamento após o Real e das taxas de juros altas.
Folha - Os juros altos causaram forte desaquecimento, com consequente desemprego.
Serra - O forte declínio da atividade, iniciado no final do primeiro semestre do ano passado, se deteve. Há hoje uma melhora a cada mês. Em abril, a indústria cresceu 4% em relação a março.
Isso bate no emprego, mas há uma defasagem no tempo. A tendência é recuperar mês a mês.
Folha - O desemprego vai diminuir daqui para frente?
Serra - Vai parar de piorar. Em um segundo momento, melhora.
Folha - Os juros também impactam o endividamento público, que explodiu no governo FHC.
Serra - A dívida mobiliária realmente cresceu muito, mas há um exagero nessa avaliação, pois se esquece de subtrair o crescimento das reservas, que é a contrapartida de parte do endividamento.
Folha - Mas as reservas rendem pouco e os títulos custam caro.
Serra - É verdade. Só estou dizendo que o crescimento da dívida líquida foi menor do que o crescimento bruto.
Folha - A crise do sistema financeiro já passou?
Serra - O pior já passou. A reativação econômica e a queda dos juros ajudam.
Folha - E o Proer?
Serra - O Proer foi e continua sendo necessário. É preciso evitar uma crise financeira generalizada, que teria um custo em termos de produção e emprego muito alto.
Folha - Quanto já custou o Proer?
Serra - Há muita confusão em torno dos custos. É evidente que há impacto fiscal, mas é muito menor do que a oposição diz. É difícil avaliar quanto custou o Proer, porque os custos são futuros.
Folha - Por que o governo FHC gasta pouco na área social?
Serra - Isso não tem base nenhuma. As despesas na área social (saúde, educação, assistência social), em 1995, cresceram 11%. Há uma série de dados divulgados que estão errados.
Folha - Mas o TCU (Tribunal de Contas da União) aprovou parecer criticando o menor gasto social.
Serra - Repito, é um mito que se criou e que até pegou em alguns setores, mas é sem fundamento.
Folha - O sr. foi muito criticado pela lentidão no processo de privatização, que até agora arrecadou menos do que os governos Collor e Itamar.
Serra - É importante esclarecer que privatização é tocada por um conselho de ministros, não é só pelo Planejamento.
Quanto à intensidade, lembro que no governo FHC já se privatizou o equivalente a 42% do valor total arrecadado nos governos Collor e Itamar somados.
Folha - A lentidão do processo é apenas mais um mito?
Serra - Um mito completo.
Folha - Mas o próprio PFL reclama da lentidão do processo.
Serra - O governo está unido e acha que o processo vai bem. Nenhum crítico apresentou até agora um alternativa concreta.
Folha - Como foi o seu relacionamento com o ministro Pedro Malan, da Fazenda?
Serra - Foi um relacionamento muito bom. Do ponto de vista da ação comum dos dois ministérios, sempre tivemos uma ação razoavelmente integrada. Alguns fantasminhas plantaram coisas falsas na imprensa, e isso pode ter dado uma impressão contrária.
Folha - Quem são os fantasminhas?
Serra - Os jornalistas estão cansados de saber quem são.
Folha - O deputado Antonio Kandir, seu substituto, era o seu escolhido para o cargo?
Serra - Quem escolhe os ministros é o presidente da República. Eu não posso ter candidato ou deixar de ter. Se eu tivesse que escolher, não escolheria melhor.
Folha - O senhor não escolheria Andrea Calabi, secretário-executivo do Planejamento?
Serra - Seria um excelente nome. Com qualquer um dos dois, a solução seria excelente.
Folha - Por que decidiu se candidatar?
Serra - Foi uma decisão difícil. Estava no Planejamento, com responsabilidades enormes. São Paulo é a terceira população do país e o terceiro Orçamento. É a segunda maior aglomeração urbana mundial. E é a cidade na qual fui mais votado em em 1990, como deputado, e em 1994, como senador.
Folha - Se o senhor tivesse se definido mais cedo, talvez contasse com o PFL, aliado do PSDB mas que em São Paulo apóia o PPB.
Serra - As alianças regionais não necessariamente se identificam com as nacionais. A aliança com o PFL não me é fundamental. O tempo disponível de televisão é satisfatório e me permite um comunicação com a população de maneira adequada. Não creio que a aliança PFL-PPB em São Paulo comprometa a aliança nacional.
Folha - Francisco Rossi, do PDT, disse que prefere a petista Luiza Erundina em um eventual segundo turno. E disse também que o senhor é ruim de televisão.
Serra - Eu acho muito interessante o Rossi falar de mim todos os dias. Espero que continue.
Folha - A máquina do governo será usada na eleição? O presidente vai fazer campanha?
Serra - Não, pois não é correto.
Folha - Mas ele já declarou que vota no senhor.
Serra - Seria incrível imaginar o presidente não votar em mim.
Folha - O Plano Real o ajuda?
Serra - O Real ajuda a todos aqueles que o defendem, e não apenas a mim.
Folha - E o lado negativo do Real, como o desemprego, não o atrapalha?
Serra - Não vejo problema nenhum em discutir a questão do emprego na campanha, até porque eu sou principal autor do seguro-desemprego. É o terceiro maior benefício social do país.
Além disso, nós organizamos um programa de empregos que terá, em São Paulo, duas traduções imediatas: a retomada das obras do metrô, que chegará até as estações de Guaianazes, Tucuruvi e Vila Madalena, e obras de saneamento, como abastecimento de águas, despoluição do rio Tietê e tratamento de esgotos.
Folha - Mas essas obras são de responsabilidade do governo estadual e não da prefeitura.
Serra - Sem dúvida, mas são feitas a partir de um financiamento do governo federal, do BNDES, que é ligado ao Planejamento.
Folha - O senhor prefere o gasto social ou em obras?
Serra - Os dois são importantes. As obras também tem efeito social. Não sou contra as obras, só acho que devem beneficiar todos bairros, inclusive os distantes.
Folha - O senhor é o candidato da Fiesp?
Serra - Nunca fui, mas aceito muito bem o voto dos empresários paulistas.
Folha - E o dinheiro dos empresários paulistas?
Serra - O dinheiro para a campanha virá dos setores que queiram contribuir dentro da lei.

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