São Paulo, terça-feira, 4 de junho de 1996
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DUAS CHINAS

A recente abertura econômica chinesa não se fez acompanhar ainda de uma solução para os impasses políticos, tanto no âmbito interno quanto nas relações com seus vizinhos.
De fato, é flagrante o contraste entre a inegável vitalidade competitiva que a China vem demonstrando no que diz respeito às suas exportações e as pesadas restrições às liberdades individuais e políticas dos chineses. E no plano diplomático, as tensões também têm sido notórias.
Das querelas com a ex-URSS no finado mundo socialista, passando pelo genocídio perpetrado pela odiosa invasão ao Tibete e chegando ao quadro atual de incertezas quanto às futuras relações com Formosa e Hong Kong, tudo parece apontar para uma curiosa obstinação dos chineses em se manterem como o último império despótico sobre a Terra.
De um lado, a tentativa de congelar a forte inquietação social no país por meio do adiamento "sine die" da democratização pode estar apenas fomentando uma futura desagregação política interna semelhante à ocorrida nas repúblicas da ex-URSS após a chamada perestroika.
Já nas relações com o Tibete, por exemplo, o governo chinês insiste em ignorar uma das principais conquistas do mundo moderno, ou seja, a clara separação entre as esferas política e religiosa. As drásticas restrições aos budistas, com a morte de milhares de devotos e a destruição de inúmeros mosteiros durante os 46 anos de ocupação, assemelham-se às práticas inquisitoriais na Idade Média. A ingerência mostra-se tão aberrante quanto a existência de estados teocráticos à maneira islâmica.
Por fim, nas relações com Hong Kong, já se registram fortes tensões por conta da incorporação, em 97, desse território que goza de maiores liberdades políticas.
Assim, se na economia a China se prepara para o próximo século, na política ainda tem de superar o obscurantismo autoritário.

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