São Paulo, terça-feira, 4 de junho de 1996
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A vitória do terror

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Antes de conseguir voltar mentalmente ao Brasil, uma palavra sobre a eleição em Israel. O que há, talvez, de mais grave no resultado não é tanto a vitória de Binyamin Netanyahu, embora baste para assustar, mas a rendição do eleitorado israelense ao terrorismo.
Foi este que determinou o resultado, não caiba a menor dúvida. Até os ataques suicidas de fevereiro e março, o premiê Shimon Peres levava uns 16 pontos de vantagem sobre Netanyahu.
Depois, todas as pesquisas confluíram para um empate estatístico, que não mais se desfez. A rigor, não se desfez nem sequer no dia da votação: ganhar por menos de 30 mil votos em um eleitorado de 3,9 milhões, computando-se ainda cerca de 140 mil votos anulados, só é vitória legal, jamais política. De todo modo, o que interessa é o efeito legal da votação.
Qualquer outro eleitorado teria o direito de assustar-se com o terror. O israelense, não. Por um motivo simples: a história de Israel é a história da penosa convivência com o terror. Da matança de atletas israelenses na Olimpíada de Munique (1972) aos mísseis de Saddam Hussein que caíram indiscriminadamente sobre Israel, 19 anos depois.
Não há segurança possível contra esse tipo de terrorismo. Basta um fanático disposto a matar e morrer e, pronto, tem-se um atentado.
Render-se ao terrorismo, como fez agora a metade dos israelenses, é um precedente terrivelmente perigoso. No Brasil, o terrorismo foi usado como pretexto para instalar-se um regime hediondo (e não é o caso de discutir-se, academicamente, se o regime instalar-se-ia da mesma maneira, tivesse ou não havido terrorismo).
Na América Latina, aconteceram fenômenos semelhantes. No Oriente Médio, só pode ser pior. A metade do eleitorado israelense tornou-se cúmplice do Hamas, o movimento islâmico fanático. O Hamas só tem uma forma de devolver a cumplicidade: com mais terror.

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