São Paulo, sexta-feira, 7 de junho de 1996
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O teatro era o reinado do ator

SÁBADO MAGALDI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Silveira Sampaio é um dos nomes mais injustamente esquecidos do nosso teatro. Porque ele marcou uma época - após surgir, à volta de 1950, no Teatro de Bolso de Ipanema, como factótum do palco: empresário, autor, diretor e intérprete principal.
Sua "Trilogia do Herói Grotesco", formada pelas comédias "A Inconveniência de Ser Esposa", "Da Necessidade de Ser Polígamo" e "A Garçonnière de Meu Marido", tinha uma verve particular, em que se desmontavam as mazelas da vida conjugal na Zona Sul carioca, num feitio que lembraria o "boulevard" francês, mas se transformava em graça nacionalíssima. E valorizada pelo talento incomum do intérprete.
Talento que preenchia de tal forma as lacunas do texto que Silveira Sampaio se opunha à dramaturgia muito palavrosa, acreditando que o teatro é o reinado do ator. Ele pagou caro por essa crença: sem novos comediantes que herdassem seu estilo mímimo-expressionista, as peças, em montagens mais recentes, perderam o brilho e acabaram sendo postas de lado.
Apenas o Arena conseguiu revalorizar, nos anos sessenta, "Só o Faraó Tem Alma", deliciosa farsa política. Sampaio realizou ainda "Sua Excelência em 26 Poses". E experimentou também a revista, cujo espírito não foi reavaliado. Por último, refugiou-se como excelente "one-man-show".
Acredito que no dia em que surgir um grande ator, que se distinga por características semelhantes às de Silveira Sampaio, suas comédias vão divertir as novas platéias.

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