São Paulo, segunda-feira, 10 de junho de 1996 |
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Plano Real reduz especulação com terras
BRUNO BLECHER
Entre fevereiro do ano passado e fevereiro último, o preço médio do hectare (10 mil m2) da terra de primeira em São Paulo, corrigido pelo IGP, caiu 36,82% (de R$ 4.908,20 para R$ 3.560,86), de acordo com dados do Instituto de Economia Agrícola. No Paraná, o hectare da terra mecanizada e destocada, a mais nobre, registrou queda real de 33% no mesmo período (de R$ 3.938 para R$ 3.032,41), aponta pesquisa do Departamento de Economia Rural (Deral). "A crise da agricultura no ano passado ajudou, mas quem derrubou mesmo o preço das terras foi o Plano Real", explica Agenor Santa Rita, pesquisador do Deral. A estabilidade econômica, segundo ele, conseguiu conter a especulação no mercado. "Antes, com a inflação alta, o proprietário supervalorizava sua terra, reajustando os preços mensalmente e até quinzenalmente. Agora, só compra terra quem quer produzir nela", diz Santa Rita. Dívidas Para o pesquisador, a alta dos preços agrícolas este ano, provocada pela redução dos estoques mundiais de grãos, não deve recuperar os preços das terras. "O agricultor continua endividado e vai usar o lucro da safra para quitar suas dívidas", diz. Antenor Benedini Filho, corretor em Ribeirão Preto (319 km a norte de São Paulo), concorda com o pesquisador do Deral. "A alta dos preços agrícolas até o momento não provocou reação no mercado de terras. Antes de fazer negócio, o produtor vai colocar sua vida em dia com os bancos", afirma o corretor. Segundo Benedini, o hectare com cana própria na região de Ribeirão Preto está valendo hoje cerca de R$ 6.500. Se a terra estiver arrendada, o preço do hectare cai para cerca de R$ 3.500. Na região Centro-Oeste, acrescenta Benedini, a desvalorização das terras agrícolas foi ainda maior. "O hectare no sudoeste goiano caiu de R$ 2.000 para R$ 1.000 no prazo de um ano", diz. Invasões Para Benedini, as invasões de terra no Centro-Oeste também prejudicam o mercado. "Nas áreas de conflito, como o Pará, muitos fazendeiros estão vendendo suas propriedades para voltar aos seus Estados de origem", diz o corretor. Luiz Cláudio Rubio, dono da Companhia Brasileira de Leilões (CBL), afirma que as invasões promovidas por grupos de agricultores sem-terra têm colaborado para esfriar o mercado de terras. "Isso acontece em regiões como o Pontal do Paranapanema, em São Paulo, no Pará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Mas a retração do mercado é resultado mais da recessão e da crise agrícola", avalia Rubio. A CBL promoveu leilões de 16 grandes fazendas nos últimos anos. A maioria pertencia a grupos empresariais, que, atraídos pelos incentivos fiscais oferecidos pelos governos militares, montaram, nos anos 70, megafazendas nas regiões Centro-Oeste e Norte. "Hoje, boa parte dessas empresas, que não têm vocação agrícola, resolveu deixar a atividade agropecuária. Isto também contribui para a superoferta de terras em algumas regiões", diz Rubio. Texto Anterior: Latifundiários usam 16,7% de suas terras Próximo Texto: Sem-terra mantêm ocupação em PE e BA Índice |
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