São Paulo, segunda-feira, 10 de junho de 1996
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Casa do Índio é foco de doença contagiosa

ARI CIPOLA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

A Casa do Índio de Manaus (AM) é um exemplo da ineficácia do atendimento médico dispensado ao índio brasileiro, apontado no relatório de Rômulo César Sabóia Moura, do Instituto de Medicina Tropical de Manaus.
O relatório, cujos principais pontos foram publicados pela Folha na sexta-feira, mostra que a expectativa de vida do índio brasileiro caiu 5,6 anos entre 93 e 95.
Apesar de ser considerada o principal posto médico de atendimento e triagem de índios de toda a Amazônia, a Casa do Índio convive com superlotação e com o não-isolamento de índios que têm doenças contagiosas.
120 índios
Na sexta-feira, 120 índios -doentes e seus parentes- estavam na Casa do Índio, cujo ambulatório tem apenas 14 camas.
A maioria dos índios aglomerava-se em alojamentos adaptados como local de internação de pacientes com tuberculose, fogo-selvagem (doença de pele), malária, catapora e outras doenças.
Há alojamentos de 40 m2 com até 13 índios dormindo em redes. Doze índios da etnia deni com tuberculose estavam misturados a seus parentes e outros índios.
Em abril passado, uma índia chegou de São Paulo com catapora e, devido ao não-isolamento, transmitiu a doença para outros 15 índios, segundo José Ribamar Caldas Lima Filho, 42, administrador da Casa do Índio.
"Nós temos esse tipo de problema de não-isolamento, mas ele é provocado pela falta de vagas na rede pública de saúde", disse ele.
O índio Vabeci Deni, 20, com suspeita de tuberculose, estava na sexta-feira deitado ao lado da mulher, que amamentava seu filho. A criança estava com catapora.
"Nós ainda somos o posto de saúde de referência do índio de toda a Amazônia, apesar dos problemas de saúde pública no Brasil", afirmou administrador regional da Funai de Manaus, Benedito Rangel de Morais, 41.
Referência
"Nós pagamos passagens para os índios chegarem aqui. Quando não conseguimos tratar o índio aqui, enviamos para São Paulo"
O número de índios na Casa do Índio é ainda maior devido à distância das aldeias. Muitos que poderiam ser tratados em casa esperam no local o retorno e os resultados dos exames por até três meses.

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