São Paulo, segunda-feira, 10 de junho de 1996
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O preço do genocídio

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Ser ou não ser a favor do imposto para a Saúde -eis a questão. O ministro Kandir já declarou que tal imposto aumentará os juros que o presidente da República classificou de escorchantes. Tudo boa gente. Os juros estão em níveis imorais e a Saúde -um dos dedos estendidos pelo candidato FHC- atravessa crise mais imoral ainda.
O ministro Jatene -ao contrário de outros políticos- tem um nome profissional, é alguém no poder ou fora do poder. É e será o dr. Adib Jatene. Ele acredita que com a criação do imposto sobre a movimentação financeira poderá extrair verbas para atenuar o genocídio no setor da Saúde.
Mesmo assim, é lícito desconfiar do novo imposto. O governo é tradicionalmente irresponsável com o dinheiro público. Não se pode esquecer dois episódios: o do Fundo Social que comprava goiabada para a mesa das autoridades (crime menor) e o dinheirão que o governo destinou a bancos fraudulentamente administrados (crime maior).
Pode-se argumentar que o dinheiro do Proer é para isso mesmo, socorrer o sistema bancário em emergências. Mas nenhuma "emergência" dura mais de dez anos, como foi o caso do Nacional, cujas tramóias eram do conhecimento do Banco Central e, pelo menos desde outubro do ano passado, do próprio presidente da República.
No caso do Proer, o dinheiro era sagrado para sua destinação específica. No caso do Fundo Social, bem, ninguém é de ferro, a letra mata, o espírito vivifica e a goiabada alimenta. Daí o perigo do novo imposto. Se aplicado a combater o descalabro em que se encontra a Saúde (vd. padrão da Clínica Santa Genoveva), seria tolerável. Teme-se que o dinheiro arrecadado acabe servindo para botar 110 cortesãos em Paris, para lubrificar a campanha dos candidatos do agrado presidencial e -desculpavelmente- para comprar mais goiabada.

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