São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 1996
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Ruralistas agora tentam barganha com a reeleição

Agrodeputados ameaçam derrubar emenda defendida por FHC

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os ruralistas arrumaram mais um jeito de pressionar Fernando Henrique Cardoso. Um de seus líderes, Nelson Marquezelli (PTB-SP), tenta apressar a votação da emenda da reeleição e, em seguida, derrubá-la na Câmara.
Se o plano do deputado der certo, o presidente, quando concluísse sua gestão, em 98, não poderia concorrer a um novo mandato.
O ruralista já conseguiu 210 assinaturas num requerimento de urgência urgentíssima para o projeto do deputado Mendonça Filho (PFL-PE). Se aprovado em plenário, levaria a emenda da reeleição a ser votada ainda em agosto.
A manobra, entretanto, é controversa em termos regimentais. Governistas e oposicionistas dizem que a urgência não se aplica a emendas constitucionais e que, portanto, o requerimento de Marquezelli não é válido.
"A emenda da reeleição só vai poder avançar para o plenário depois de vencer a fase da comissão especial", diz o líder do PMDB, Michel Temer (SP). "O governo não vai querer isso agora, nem dessa forma", completa.
"Loucura"
Tido como um especialista em regimento interno, o deputado José Genoino (PT-SP) é mais veemente: "É uma loucura, não é para valer. Isso é posição política para barganhar com o governo".
Se antecipando às críticas, o pai da idéia nega que a iniciativa seja uma articulação da bancada ruralista. "Isso é uma convicção pessoal minha. Não podemos ficar com a reeleição em aberto, o país tem de resolver", afirma.
"A emenda está sujeita à tramitação especial, não pode ter prazos encurtados. Se não o governo aprovaria urgência para todas as reformas que quisesse. Seria o fim da Constituição", rebate Genoino.
Temer reconhece que, apesar do impedimento, o requerimento vai fazer barulho no Congresso. Marquezelli diz que a maioria das assinaturas que obteve foram de deputados do PMDB e do PPB.
O petebista lança dois argumentos para defender a necessidade de votar a reeleição ainda este ano.
Afirma que o eleitor tem o direito de saber, antes de outubro, se seu candidato a prefeito poderá concorrer à reeleição. Além disso, acrescenta, se a votação da reeleição for adiada para 97, 5.000 prefeitos farão lobby no Congresso para aprová-la no próximo ano.
Esse é, na verdade, o ponto crucial: o governo quer adiar a votação porque acha que tem mais chances de aprovar a emenda em 97, com a ajuda dos novos prefeitos. Os oposicionistas querem votá-la agora para queimá-la.
Luís Eduardo
A decisão vai sobrar para o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA). Ele pode rejeitar o requerimento com base num parecer jurídico, ou colocá-lo em votação. Para ser aprovado, precisaria de 257 votos.
Enquanto isso, a bancada ruralista terá mais um ás na manga para negociar com FHC.

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