São Paulo, quinta-feira, 13 de junho de 1996
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Voluntário evitou colapso em hospitais

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os voluntários congestionavam o pronto-socorro do Hospital Regional de Osasco. Foram cerca de 150 médicos e 250 enfermeiras, diz o diretor Edvard Romanini, 52.
Anteontem, não faltou pessoal para socorrer os 154 primeiros feridos que as ambulâncias descarregavam nas duas primeiras horas após a explosão do Osasco Plaza.
Não muito longe dali, no Hospital Cruzeiro do Sul, o diretor clínico Rubens Corrêa da Costa, 52, diz que recebeu o reforço de cerca de 50 médicos e até de um dentista.
Num terceiro hospital da cidade, o Montreal, os médicos fecharam suas salas no ambulatório e foram ao pronto-socorro. Eram dez as auxiliares de enfermagem, em lugar das duas normalmente de plantão no período da tarde.
São três exemplos que confluem para a mesma conclusão. Uma espécie de generosidade difusa permitiu que não faltasse pessoal para o rápido atendimento às vítimas.
É como se não fosse pertinente indagar à rede de saúde se ela é ou não capaz de absorver um volume tão grande e imprevisto de feridos.
Com base na improvisação e no voluntarismo, ela demonstrou rapidez em Osasco.
Doadores de sangue também compareceram às pencas. No Hospital Regional, em lugar de 40 doações diárias, anteontem foram 186 e até as 15h de ontem outros 187.
"É um jeito de exprimir solidariedade", dizia o operário Eliseu Carlos Goes, 33, um dos doadores.
No Cruzeiro do Sul, que montou às pressas um hemocentro, 315 pessoas já haviam doado sangue até as 17 de ontem.
Em caso de sinistro desse porte, a Defesa Civil -ligada ao gabinete do governador do Estado- traça a logística das internações e requisita leitos na rede hospitalar privada.
A rigor, nem uma coisa nem outra foi necessária. Uma rede informal de solidariedade se encarregou de dar conta do recado.
"Tínhamos sutura e medicamento para atender a demanda", diz o responsável pelo pronto-socorro do Hospital Regional, Darcy Carvalho, 36.
"O temor era que chegássemos a 500 feridos e faltasse material. Mas, mesmo assim, estamos agora até com sobra de colchões, lençóis e cobertores doados", diz.
Foi com base nessa estimativa mais pessimista que aquele hospital da rede estadual encaminhou cerca de 60 feridos a 18 outros hospitais de Osasco e paulistanos.
Deixou para atendimento próprio o fim de uma fila de feridos que acabou sendo mais curta que o esperado, dizem os funcionários.
Pela delicadeza do estado de alguns, dez remoções foram feitas por helicóptero. "Além do aparelho da PM, dois outros -de empresas privadas- apareceram para nos ajudar", diz Edvard Romanini, do Hospital Regional.

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