São Paulo, quinta-feira, 13 de junho de 1996
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NEGAÇÃO DEMOCRÁTICA

Há muito esta Folha vem reclamando da inconsistência ideológica da maioria dos partidos brasileiros e cobra agilidade na reforma da estrutura política nacional.
Um fato, talvez isolado, certamente menor, revela essa fragilidade na forma de um retrato ampliado. Trata-se da cidade de Orlândia, no Estado de São Paulo. Ali, nem será preciso realizar eleições. Os caciques locais já decidiram o pleito, lançando um único candidato a prefeito e privando assim a população de seu inalienável direito à escolha. Pela atual legislação, mesmo que receba um único voto, o candidato será eleito.
A ausência de qualquer base ideológica nas agremiações fica patente quando se vê que o candidato escolhido pela classe política local conta com os apoios do PFL, PSDB, PMDB, PL, PTB, PPB e PDT.
O que foi capaz de unir tantas legendas em tese tão diferentes ideologicamente -de socialistas a liberais, passando por social-democratas- não foi outra coisa senão um amplo acordo de distribuição de cargos e de revezamento no poder. É a perpetuação do "statu quo".
Ainda que em nível nacional o vácuo ideológico partidário não seja tão evidente, ele certamente existe, e em grau muito maior do que o desejável. A constatação é triste: política, no Brasil, se faz com base em cargos e verbas e não idéias e propostas.
Alterar essa situação é um imperativo. Cumpre, portanto, adotar certas medidas que visem a fortalecer os partidos políticos, não como meros atravessadores de nomeações ou liberações de dinheiro público para obras, mas como instituições que tenham uma plataforma política e se empenhem em implementá-la.
Tergiversar nas reformas políticas é condenar o país ao imobilismo político em que caiu. Pior, pode levar ao surgimento de novas Orlândias, a negação mesma da democracia.

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