São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 1996
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Pacientes se revoltam com transferência

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Os idosos internados na clínica Santa Genoveva se rebelaram contra as transferências ordenadas pelo Ministério da Saúde. Pelo menos um dos doentes fugiu. Uma paciente foi impedida de praticar suicídio ontem de manhã.
A revolta começou cedo, quando as ambulâncias chegaram para retirar os idosos da Santa Genoveva, situada em Santa Teresa (zona sul do Rio). Nos últimos dois meses, morreram 98 pacientes na clínica.
A falta de informações sobre para onde estavam sendo levados indignou os idosos. Chorando, Otávio Ferreira, 65, disse que quatro pacientes foram amontoados na traseira de uma ambulância.
"Parece mais um camburão (carro policial). Aqui não tem nenhum preso para ser tratado dessa forma", afirmou ele.
Em meio aos protestos, Isaura Maria da Silva Santana, 52, fugiu para a floresta vizinha à clínica.
"Vou me matar. Prefiro morrer a ser levada daqui", disse aos amigos. Ela foi recapturada por enfermeiros quando procurava um abismo para se jogar.
Mário de Abreu, 52, conseguiu escapar pela portaria da clínica. "Está todo mundo apavorado. Vou embora. Faço o que quiser", disse Abreu, que tem tuberculose.
Em Brasília, o ministro da Saúde, Adib Jatene, anunciou que até hoje os 238 pacientes da Santa Genoveva serão transferidos.
Parentes
A revolta se estendeu a parentes de internos e funcionários da clínica. No fim da tarde, cerca de cem parentes fizeram um protesto em frente à Santa Genoveva.
O universitário Eduardo Cachada, 27, disse que a tia Senhorinha Cachada, 60, vitimada por uma trombose, não quer sair da Santa Genoveva.
"Estão querendo levar os doentes para hospitais públicos, onde tem gente morrendo na porta", afirmou ele.
Aos gritos, a desempregada Maria do Socorro da Silva, 34, pedia informações sobre o pai, Miguel Inácio da Silva, 64, há seis anos na Santa Genoveva sendo tratado de derrames e problemas renais.
"Ninguém diz para onde ele vai. Os doentes estão sendo tratados como cachorro", afirmou.
Maria do Socorro disse que o tratamento na clínica melhorou. "Era uma imundície, mas agora está bom. O ministro devia pegar esse dinheiro e cuidar da clínica. Aqui pode ser ruim, mas lá fora é muito pior", disse ela.
Funcionários da clínica participaram da manifestação. A chefe da enfermagem, Márcia Silva, disse que as outras clínicas estão em piores condições.
"Tivemos um surto e erramos em não fazer a comunicação, mas este pessoal tem que ter um pouco de humanidade."

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