São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 1996 |
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Estrela do cinema nazista dá sua versão da história
INÁCIO ARAUJO
Se "Leni Riefenstahl: A Deusa Imperfeita" é um documentário fascinante, isto se dá, em boa parte, porque a personagem cuidou de controlar a imagem que era veiculada dela, de cabo a rabo. Com isso, em momento algum o diretor Ray Mller cai na tentação de encerrar o assunto chamando a diretora de "O Triunfo da Vontade" de nazista. Permite à velha senhora reivindicar-se como uma alemã comum, que passou a guerra sem ouvir falar de campo de concentração. Nem tão comum, afinal: ela assume a amizade pessoal com Hitler, com a mesma veemência que nega ter sido amante de Goebbels (aliás, sustenta que não ia com a cara dele). Mas lá está, também, a jovem atriz alpinista dos anos 20: lindíssima e vivendo profundamente a ideologia alemã (ar puro, perfeição espiritual e corporal etc.). A defesa que Leni faz de seu trabalho resume-se em uma palavra: estética. Tudo pela estética, tudo pela arte. Nada pelo nazismo. Sim, mas "Olympia" e "O Triunfo da Vontade" são um pouco mais que isso: exaltação da ordem unida, de certo tipo de beleza que hoje conhecemos como nazista. A rigor, o destino e as crenças pessoais de Leni Riefenstahl hoje interessam pouco. Sua renegação do nazismo -feita aos 91 anos, e ainda revelando uma vitalidade alucinante- importa pelo que revela da maneira como, na Alemanha, se articulou um conjunto de crenças que levaram aos hediondos resultados que se sabe. Filme: Leni Riefenstahl: A Deusa Imperfeita Produção: Alemanha, França, 182 min. Direção: Ray Müller Quando: a partir de hoje no Espaço Unibanco/sala 3 Texto Anterior: NOITE ILUSTRADA Próximo Texto: Winona volta a crer na monogamia Índice |
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