São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 1996
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Milionário é o novo 'bufão' da Rússia

HELEN WOMACK
DO "THE INDEPENDENT", EM MOSCOU

Apesar de um ou outro lapso, como o que cometeu um dia desta semana quando apareceu diante da imprensa usando uma túnica em estilo Mao Tse-tung, de cor amarelo-canário, o neofascista russo Vladimir Jirinovski vem conduzindo sua campanha presidencial com relativo bom gosto e moderação.
O consenso generalizado é que o chapéu de bobo da corte passou para o mais recente bufão da política russa, um milionário espantosamente grosseiro de nome Vladimir Brintsalov.
É claro que Brintsalov ainda tem muito a aprender com o mestre. Enquanto Jirinovski faz seus pronunciamentos ultrajantes com o rosto impassível, permitindo à platéia urrar com risadas de espanto, Brintsalov ri de suas próprias piadas -melhor dizendo, gargalha. "O dinheiro é a maior invenção da humanidade, ha, ha, ha!"
Aos 49 anos, esse milionário que enriqueceu por conta própria se fez notar em meio aos vários candidatos sem chances.
Mesmo que só consiga 1% dos votos, como prevêem as sondagens, já se tornou uma figura nacionalmente conhecida, com chances de futuro na política.
Para isso, ele vem contando com a ajuda de sua jovem e atraente mulher, Natacha, "minha segunda mulher, mas não a última, ha, ha, ha!".
Tapa
Em uma ocasião, a loiríssima baixou as calças diante da imprensa para receber do marido um tapa na bunda. As nádegas hoje famosas lançaram uma nova carreira política.
Nádegas à parte, quais são as políticas defendidas por Brintsalov? Difícil dizer. A impressão é que ele está interessado principalmente em ostentar riqueza.
Apelidado por alguns comentaristas de "o Ross Perot da política russa", Brintsalov, que usa jaquetas esporte em cores berrantes, talvez possa ser descrito como capitalista nacionalista.
Eleito para a Duma (Câmara dos Deputados) em dezembro, optou por ficar ao lado dos nacionalistas e neocomunistas.
Mas, quanto à economia, está longe de ser comunista. Pede aos eleitores que acreditem que o fato de ter fundado uma empresa com faturamento anual de US$ 600 milhões constitui prova de que seria capaz de dirigir um país de 150 milhões de pessoas.
Sua carreira empresarial é interessante. Brintsalov diz ter nascido "de família humilde" em Stavropol, no sul da Rússia. Em 1979, foi expulso do Partido Comunista por "revelar tendências pequeno-burguesas" quando construiu uma casa de três andares para morar. Na era da "perestroika", montou cooperativa de apiários que lhe rendeu US$ 800 mil com a venda de mel.
Brintsalov usou o dinheiro para adquirir uma farmacêutica que ele não demorou a transformar em líder do mercado.
Mas existe um lado mais sombrio de Brintsalov, apelidado pelos deputados de "produtor de bebida clandestina". Além de remédios, ele produz vodca.
Segundo a polícia tributária de Moscou, Brintsalov deve 40 bilhões de rublos (US$ 7,95 milhões) em impostos atrasados.
Seu passado também é interessante. Brintsalov porta arma de fogo e se gaba de ter tido de afastar mafiosos à força no início de sua carreira de empresário. "Os ossos deles estão apodrecendo nas florestas de Moscou."
"Showman" por natureza, Brintsalov percebeu que para se fazer notar na política é preciso abrir a boca e falar alto. Mas, se quiser respeitabilidade, talvez fizesse melhor em mantê-la fechada sobre alguns assuntos.

Tradução de Clara Allain

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