São Paulo, sexta-feira, 14 de junho de 1996
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O velho e novo amor dos namorados

JOSÉ SARNEY

Esta semana foi marcada pela lágrima -da tragédia de Osasco- e pelo velho e eterno culto aos namorados.
O amor é um tema eterno. Desde quando se tem memória, a literatura trata das relações amorosas. Na Antiguidade Clássica, temos Ovídio com a sua "Arte de Amar".
Júlio Dantas, em seu livro "O Amor em Portugal no Século 18", cita um psicólogo do tempo de d. João 5º que definiu o namoro nestes termos: "A arte de fazer entendimentos".
E continua o escritor português: "Entendimentos por palavras, quando se falavam; entendimentos por cartas, quando se escreviam; e quando não podiam falar-se nem escrever-se, que era o que acontecia quase sempre, -entendimentos por trejeitos, por acenos, por suspiros, por piscações de olho, por sinais de chapéus, de lenço e de leque, por mordeduras de beiços..." e por aí vai a descrição de nosso Júlio Dantas. Mas como é diferente, hoje, o amor em Portugal.
É conhecida a lenda medieval de Tristão e Isolda, condenados ao amor eterno, e que inspirou Wagner em sua famosa ópera homônima.
E há a história verídica do amor de Abelardo e Heloísa que, na impossibilidade de sua concretitude, dedicaram-se à causa de Deus.
E há o tema sempre recorrente de Romeu e Julieta, que todos conhecem, igualmente um amor impossível por injunções de ordem política e familiar. E há o amor de desfecho trágico de Inês de Castro com o príncipe d. Pedro, o que inspirou Montherlant a escrever um drama sobre o tema: "La Reine Morte".
Na Idade Média, ao lado dos romances de cavalaria, temos exemplos magníficos de romances de amor cortês. E não só romances, igualmente a poesia trovadoresca trata das cantigas d'amor.
Para os trovadores, é pela beleza feminina que o amor supremo atinge o coração do homem. Temos a valorização do espírito feminino. A poesia galaico-portuguesa é plena de exemplos de cantigas de bem-querer que exaltam essa melhor criação de Deus, a mulher.
A consciência do amor, na lírica amorosa medieval, é frequentemente indissociável da alegria provocada pela renovação. É o "Romance da Rosa", clássico da literatura medieva.
E temos Camões, em sua obra lírica, glosando motes e realizando sonetos imorredouros. Creio que valha a pena citar alguns versos: "Amor é fogo que arde sem se ver,/ É ferida que dói e não se sente;/ É um contentamento descontente;/ É dor que desatina sem doer".
Gonçalves Dias, o nosso grande romântico, escreveu sobre o amor escondido: "Isso é amor, e desse amor se morre".
O Dia dos Namorados, hoje, é uma promoção comercial desse sentimento. Mas não faz mal. Ganha o consumo, mas lembra que deve ter um dia para os namorados, embora minha secretária me afirme que o verdadeiro dia dos namorados é o dia em que ela conhece o novo namorado.

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