São Paulo, sábado, 15 de junho de 1996
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Gala rompeu a virgindade que restava no surrealismo

MARCELO REZENDE
DA REDAÇÃO

Gala, escreveu o poeta francês Paul Eluard, tem um olhar que atravessa as paredes. Bela, forte e alucinante, a russa Elena Diakonoff, mulher do pintor Salvador Dali por 55 anos, foi a primeira-dama do movimento surrealista. Sem nunca ter sido uma artista.
A mulher e seu fascínio é o objeto de "Gala", biografia escrita pela francesa Dominique Bona, a ser lançada no próximo mês pela editora Record: "O que sempre me fascinou foi o fato de ela ter sido um objeto de paixão", disse Bona, em entrevista à Folha.
Durante quase 20 anos Gala foi companheira de Eluard. Ela o havia encontrado em 1912, em um sanatório na Suíça. Uma experiente mulher de 19 anos e o jovem inexperiente garoto de 17: "Gala foi conquistada por versos".
Casaram-se em 1917. O mesmo ano da Revolução Russa. Havia então o comunismo, a guerra, o pintor Max Ernst, seu amante com a conivência de Eluard e, como se já não bastasse, o surrealismo: "Gala nunca foi bem aceita pelos companheiros da 'aventura surrealista'. A não ser Salvador Dali".
O "cão catalão" encontrou Gala nos anos 30. Dali, conta Bona, era um homem virgem: "Gala foi a primeira e única mulher na vida de Dali. Era mais mãe que amante".
As imagens de Gala figuram nos quadros "Galarina" e "Leda Atômica", entre tantos que traziam a mistura de sensualidade e castidade. Em 1982, aos 91 anos, Gala "desaparece", na maneira que sua morte é anunciada na França.
Dali resistiria mais tempo: "Foram anos tristes. Dali era apenas um morto-vivo. Morreu chamando por ela em seu castelo".

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