São Paulo, sábado, 15 de junho de 1996
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Instrumento tecnicamente apropriado

DUDA MENDONÇA

Tecnicamente, acho que sim... tecnicamente. A propaganda na TV é o instrumento mais apropriado quando se precisa atingir, com rapidez, todos os segmentos da sociedade. No caso específico, no entanto, para que a componente técnica seja de fato eficiente, ela precisa estar acoplada a uma decisão política acertada e a uma estratégia correta.
Sem medo e sem hipocrisia, abordemos, inicialmente, duas questões de fundo nessa discussão. A primeira é se o Poder Legislativo tem o direito de usar o dinheiro público para veicular mensagens do seu interesse. A segunda é se o atual Legislativo brasileiro reúne condições políticas objetivas para reivindicar esse direito.
A primeira resposta, obviamente, é um sim, sonoro e completo. Ela se afirma no princípio da soberania e do equilíbrio dos Poderes. Pois se o Executivo pode utilizar propaganda paga na TV, por que o Legislativo ou o Judiciário não poderiam fazer o mesmo? Sei, sei, já tem gente a esta altura lembrando que a lei permite a requisição de rede nacional gratuita pelo presidente do Congresso para tratar de assuntos de interesse nacional. Não seria suficiente e mais barato para a população?
Permitam-me discordar e, mais uma vez, lembrar o princípio de igualdade dos Poderes. O Executivo tem o mesmo direito, mas, acertadamente, não deixa que sua comunicação institucional se restrinja a enfadonhas "falas do trono". Afinal, muitos temas precisam de abordagem e linguagem específicas para que sejam comunicados com eficiência.
Agora surge a questão mais polêmica: seria politicamente acertado e estrategicamente correto o atual Legislativo utilizar propaganda paga na TV para melhorar a sua imagem? Sim, se ele tiver, de fato, coisas concretas para mostrar e debater com a sociedade e que, por limitações de qualquer natureza, não estejam fluindo corretamente para a população.
Estou adiantando, dessa forma, que a comunicação paga do Congresso deve ser, antes de tudo, interativa e participativa. Deve reforçar o principal papel do Congresso, que é o debate e o encaminhamento dos grandes problemas nacionais.
O dinheiro público somente poderá ser usado na propaganda do Congresso se houver grandes mudanças a anunciar, grandes temas a debater e, sobretudo, com a criação de mecanismos de controle para preservar o interesse público. Ele não pode ser usado para demagogia ou interesses corporativistas. Mesmo porque, se isso ocorrer, o efeito será o contrário, aumentando a rejeição e a indignação da população.
Se a propaganda do Congresso seguir esses princípios de honestidade e respeito, teria orgulho de fazer essas campanhas absolutamente de graça. Por enquanto, acho mais prudente fazer algumas mudanças primeiro e pensar em anunciar depois.

José Eduardo Cavalcanti Mendonça (Duda Mendonça), 51, publicitário, é presidente da Duda Mendonça Associados.

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