São Paulo, sábado, 15 de junho de 1996
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TURBULÊNCIA NA COLÔMBIA

Longe de eliminar a turbulência institucional, a decisão do Congresso colombiano de inocentar o presidente Ernesto Samper pode produzir efeito exatamente inverso.
Equivale, guardadas as proporções, ao Congresso brasileiro ter decidido contra o impeachment do então presidente Fernando Collor, em 92. O que teria acontecido no Brasil, nessa hipótese, é matéria especulativa.
Mas parece razoável dizer que o Brasil poderia ter enfrentado forte instabilidade institucional.
Vale o mesmo para a Colômbia. Há, na opinião pública e nos agentes econômicos e sociais, dúvidas razoáveis sobre a inocência do presidente, acusado de ter recebido contribuições volumosas do narcotráfico para a sua campanha eleitoral.
São dúvidas pertinentes. O próprio Samper já admitiu que recursos ilícitos podem ter sido doados para sua campanha, mas alega que, se ocorreu, foi sem o seu conhecimento.
Não é fácil para o público, sempre desconfiado dos políticos, no mundo todo, aceitar que tal volume de recursos possa surgir na contabilidade de um partido sem que o candidato tome conhecimento da origem deles.
A decisão do Congresso afasta a hipótese de se punir o presidente pela única instância constitucionalmente autorizada para tanto. E é desse fato que decorre a perspectiva de instabilidade institucional.
Ainda mais que a economia colombiana, talvez a mais estável da América Latina nos muitos anos de turbulência na região, já está pagando alto preço pela crise política.
Tão alto que setores empresariais importantes abandonaram a cautela de praxe para pedir abertamente a renúncia do presidente.
Se se acrescentar a esse cenário o descontentamento do principal parceiro da Colômbia, os Estados Unidos, com o desenlace do processo, tem-se combustível suficiente para temer que a crise não venha a se encerrar com a decisão congressual.

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