São Paulo, sábado, 15 de junho de 1996
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Amar os idosos

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Os fatos recentes e tristes, acontecidos na clínica Santa Genoveva, no Rio de Janeiro, e em outras instituições, mostrando descuido e desrespeito pelos idosos, obrigam-nos a rever nosso comportamento em relação a eles.
Temos que reconhecer que não se trata de casos isolados. Há muitos idosos no desamparo. Numa sociedade em que, infelizmente, aumentam o egoísmo e o desinteresse pelo próximo é preciso manter viva a prática do amor gratuito e generoso, a exemplo de Cristo. O zelo pelos anciãos e enfermos, onde quer que se encontrem, é pedra de toque dessa atitude evangélica.
Comecemos por analisar melhor as condições difíceis em que, não raro, encontram-se os idosos. Um primeiro aspecto doloroso é o fechamento progressivo do círculo de amizades, que acaba por confinar a pessoa de idade em seu pequeno mundo e até na solidão.
Outra causa de sofrimento é, para muitos, a falta de disponibilidade econômica, pois a maior parte dos que se aposentaram recebem pensão insuficiente, que não lhes permite assegurar o mesmo nível de vida que possuíam. A situação se agrava quando a doença diminui as forças e requer tratamentos dispendiosos.
Precisamos todos, especialmente as comunidades cristãs, ter um sincero interesse pelos anciãos para que em seus sofrimentos e enfermidades possam receber de nossa parte toda estima e apoio.
Para isso é indispensável a afeição dos familiares. Nada conforta tanto o idoso quanto sentir-se amado em seu lar, útil e valorizado, respeitado em suas opiniões e justos desejos. Onde não for possível a presença na própria família, fica o apelo às comunidades cristãs e grupos de boa vontade para que acolham os idosos.
É necessário oferecer-lhes atividades, lazer, atendimento fisioterápico e, em particular, o afeto que merecem. Em vez de grandes asilos, é melhor dar preferência a casas com menor número de internos onde, com mais facilidade, se assegurem a atenção a cada um e o ambiente semelhante ao próprio lar.
O atendimento à saúde poderá ser garantido por equipes que visitem os idosos de modo regular em suas residências. Para situações que requerem cuidados médicos intensivos, que haja centros especializados para a conveniente internação.
Ao governo pertence colaborar com a sociedade organizada na elaboração de um programa completo em benefício da terceira idade e contribuir para os gastos necessários, conforme as situações.
É o momento de valorizarmos e darmos auxílio às iniciativas de grupos beneméritos como os membros da sociedade de São Vicente de Paulo e outras que se devotam ao cuidado dos idosos empobrecidos.
Desejo expressar o reconhecimento da arquidiocese de Mariana ao jovem sacerdote Marco Túlio da Paz que, durante meses, com dedicação exemplar, recebeu em sua paróquia e acompanhou, dia e noite, até o falecimento, o colega mais idoso, vítima de um câncer na face.
Aos jovens fica o convite para que sejam os primeiros a assumir, com entusiasmo e carinho, o cuidado dos anciãos, a começar pelos próprios familiares. Hão de atrair, assim, as bênçãos de Deus sobre o Brasil e capacitar-se a construir uma sociedade baseada no respeito e amor à pessoa humana, à luz do Evangelho.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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