São Paulo, sábado, 15 de junho de 1996 |
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Frustração com um produto ruim
WASHINGTON OLIVETTO Qualquer empresa séria só faz propaganda de um produto quando tem certeza absoluta de sua qualidade. A pior coisa que pode acontecer a um mau produto é ter boa publicidade. A boa publicidade só aumenta a expectativa do consumidor.Quando o produto não corresponde a essa expectativa, a frustração e consequente rejeição do consumidor é violenta. O Congresso Nacional (deputados e senadores) não é um simples produto. É muito mais do que isso. Mas seu comportamento vem causando frustrações em nós, consumidores, os brasileiros, mesmo sem que ele se anuncie. Anunciar o Congresso agora seria apenas uma maneira de aumentar essa frustração. Com possibilidade de provocar uma rejeição violenta. Quando artistas como os Paralamas do Sucesso, tempos atrás, ou jornalistas como Arnaldo Jabor, mais recentemente, manifestaram suas opiniões, eles não estavam a serviço de nenhum interesse escuso, econômico ou político. Estavam apenas cantando ou reportando um sentimento popular latente. Antes de pensar em se anunciar, o Congresso Nacional precisa pensar em se reerguer. Não para se anunciar depois. Apenas para poder cumprir corretamente a sua função de defensor do nosso maior patrimônio: a democracia. A idéia de anunciar o Congresso lembra o conceito de propaganda de Goebels: propaganda política com a função de induzir o povo, condicioná-lo à vontade das forças políticas detentoras do poder. Prefiro a imprensa independente, acompanhando e reportando o trabalho dos senadores e deputados. O Congresso Nacional não é propriedade de ninguém. É propriedade de todos os brasileiros. Assistir a um comercial do Congresso me dá a sensação de assistir ao comercial de um produto do qual eu já sou dono. Eu apenas não estou contente com seu desempenho, mas sei que sua existência é fundamental para mim. Ninguém gosta mais de publicidade do que um publicitário. Possivelmente, ninguém neste país seja tão fanaticamente publicitário quanto eu. Mas existem valores maiores, que devem ser defendidos antes de uma profissão. Tenho certeza de que no Congresso existe gente preocupada em servir o país. Esses saberão muito bem onde aplicar o dinheiro que seria destinado a uma campanha de propaganda. Texto Anterior: Amar os idosos Próximo Texto: Reparar sim, intimidar jamais Índice |
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