São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 1996
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A nova UDN

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Não sei como as coisas estão se passando nas outras capitais. Aqui no Rio, a sucessão municipal é briga de entendido, de profissionais.
Começa que o governador e o prefeito -políticos que tiveram a mesma origem partidária- estão brigando feio. Mais feio ainda brigam os esquemas de um e outro.
A convenção do PSDB foi -segundo atestam as folhas- de uma baixaria exemplar. Numes tutelares do partido foram entusiasticamente vaiados, um dos pretendentes ao cargo de prefeito sofreu agressões físicas e teve suas roupas rasgadas.
Para uma cidade que durante dois séculos foi capital da República e não tinha autonomia política -sem direito de eleger um gari, um guarda-mosquito- tudo deve ser perdoado.
Mesmo assim, não sei por que me lembrei da velha UDN -partido que fazia o meu amigo Otto Maria Carpeaux babar de indignação, espumar de cólera. Fica difícil explicar: tal como o PSDB, a UDN tinha numes tutelares, pretendia ser um partido "light", de muita moral e compostura. Sobretudo, de muita ética.
A cúpula era formada por intelectuais, verborrágicos, acacianos, capazes de promover um simpósio ou um seminário sobre a inconveniência de se pisar na grama ou cuspir no chão.
A principal característica da UDN era a distância entre o verbo e a ação, o discurso e a prática. Nascida e crescida aqui no Rio, ela fascinou moralistas provincianos, aparentemente unidos em torno do combate à ditadura de Vargas, regime que não foi derrubado pelos políticos e sim por militares que haviam lutado no final da 2ª Guerra Mundial.
A UDN apoderou-se da façanha e criou um partido hipócrita e reacionário que só tomou o poder obliquamente, com o movimento militar de 64.
Bem, acabei falando da velha UDN quando comecei a crônica ameaçando falar sobre o PSDB em sua versão municipal. Qualquer coisa será saudável desde que se evite a repetição de um neo-udenismo.

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