São Paulo, domingo, 23 de junho de 1996![]() |
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Moeda única ameaça criar duas Europas
IGOR GIELOW
O motivo é simples. Quando o primeiro semestre de 1998 chegar, e os 15 membros da União Européia tiverem suas contas examinadas, estima-se que apenas 7 deles vão poder ter a chancela para entrar na UME (União Monetária Européia). Alemanha, França, Dinamarca, Irlanda e o grupo do Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo) devem chegar lá, segundo especialistas ouvidos pela Folha e publicações especializadas, como a revista britânica "The Economist". Itália, Espanha, Portugal, Grécia, Suécia, Finlândia e Áustria não devem entrar na União Monetária Européia. O Reino Unido optou contra a entrada na UME. Mas a lista é imprecisa e já mudou -há dois meses achava-se que a Áustria e a Finlândia estariam no grupo e que a Dinamarca não teria as condições. Segundo o Tratado de Maastricht, assinado há cinco anos na cidadezinha holandesa que leva esse nome, foi estipulado que, em 1999, será a mesma a moeda dos países europeus que obedeçam às seguintes regras básicas: 1. Não tenham déficit orçamentário superior a 3% do PIB (Produto Interno Bruto, soma do que o país produz em um ano). 2. Não gastem mais do que o equivalente a 60% do PIB em pagamento de dívidas públicas. "Isso é irreal. A UME é um grande erro, um objetivo que mais divide do que une a Europa", afirma Ralf Dahrendorf, que foi comissário alemão na UE e hoje dá aulas na Universidade de Oxford. A criação da chamada "Europa de duas velocidades" é considerada uma ameaça real. Com um grupo de países mais unidos e com os poderes de veto sendo revistos pela Conferência Intergovernamental deste ano, podem surgir graves conflitos de interesses. A conferência, que foi lançada em março e vai rever todas as estruturas da UE durante um ano, é vista como a "última salvação" para quem não acredita na União Monetária Européia. "A criação dessas duas Europas vai contra toda proposta de união existente. Pode ser até o fim da UE se nada for feito", diz Michael Hodges, diretor no Departamento de Relações Exteriores da London School of Economics. Para ele, a força que a Alemanha terá no cenário de união causa "arrepios históricos". Há vantagens aparentes na União Monetária Européia. Seus países mais fracos ganhariam uma economia estabilizada pelo poder político e econômico dos parceiros mais fortes, e o comércio multilateral também ganharia um forte impulso. "Não há como dizer não ao euro, em termos de perspectiva de investimentos. Facilitará muito a expansão de grandes grupos", diz John Howard, operador de bancos de investimento da City, o coração financeiro de Londres. No caso de os cronogramas serem mantidos, em janeiro de 1999, será feita a chamada "junção das moedas". Será a fase mais complicada do euro, quando vários países terão de operar uma engenharia financeira capaz de sincronizar suas políticas monetárias (de emissão de moeda) e cambiais. Qualquer crise mundial, como uma quebra em uma bolsa de valores nos Estados Unidos, pode pôr tudo a perder. O euro, no mercado financeiro, deve substituir as atuais ECUs (sigla em inglês de Unidades de Moeda Européia), papéis usados com sucesso nas transações internacionais atualmente. Um futuro Banco Central europeu controlaria a emissão, entre 2002 e 2003, das moedas de euro -que passariam a substituir as moedas nacionais e valeriam em todos os países que entrassem na União Monetária Européia. Na semana passada, o todo-poderoso presidente do Bundesbank (banco central da Alemanha e provável embrião da versão européia), Hans Tietmeyer, disse ao jornal britânico "Financial Times": "O atraso no cronograma não seria o fim do mundo". Um ano atrás, a frase seria apenas impensável. LEIA MAIS sobre Europa nas págs. 26 e 27 Texto Anterior: Documento da cúpula árabe deve sair hoje Próximo Texto: Crise da carne opôs o Reino Unido à UE Índice |
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