São Paulo, domingo, 23 de junho de 1996![]() |
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Crise da carne opôs o Reino Unido à UE
IGOR GIELOW
Desde 1975, quando um plebiscito teve de ser feito para ratificar a adesão à União Européia ocorrida dois anos antes, os britânicos estão progressivamente mais refratários à união com seus parceiros do continente. O ápice da crise, que já havia tido momentos de tensão durante o governo antieuropeu da ex-primeira-ministra conservadora Margaret Thatcher (1979-1990), foi a chamada "guerra da carne". A história é conhecida: devido a um mal pouco conhecido, a "doença da vaca louca", o governo britânico disparou o alarme dizendo que poderia haver risco para os seres humanos. Veto à carne Voltou atrás depois, amparado pela Organização Mundial da Saúde (que, porém, não descarta riscos), mas a UE já havia banido a carne britânica e derivados do mercado mundial em março. Com quase 40 mil trabalhadores do setor pecuário na rua, o premiê John Major foi ao ataque. Por três semanas, obstruiu tudo o que a União Européia decidiu, por omissão ou veto. Anteontem, durante reunião dos 15 países-membros da UE em Florença (região central da Itália), Major finalmente conseguiu um acordo para acabar como o veto à carne do país. O acordo, porém, é rígido com o Reino Unido e não deu prazos bem definidos para o fim total do embargo à carne britânica. Mas possibilitou o fim da retaliação do Reino Unido, que oficialmente acabou na noite de sexta-feira, o dia do acordo. Crítica "Suas medidas foram obviamente eleitorais. Ele está mal nas pesquisas (para a eleição geral do ano que vem) e precisava conquistar o voto mais conservador e apoio dentro de seu partido", diz o pesquisador Michael Hodges, da London School of Economics. "Mas o problema é que isso só mostrou mais ainda sua fragilidade frente ao resto da Europa. E, agora, não terá nem o apoio em sua casa", afirma Hodges. Com a revisão dos poderes de veto que ocorre na Conferência Intergovernamental da UE, as obstruções podem ficar mais difíceis. "Além disso, a imagem britânica só piorou com a postura." O Reino Unido, com um PIB de US$ 1 trilhão e 58,1 milhões de habitantes, optou por não entrar na união monetária de Maastricht. Pesquisas Segundo pesquisas recentes, quase 60% da população apóia a decisão -o maior medo é o da perda de valor da hoje forte libra esterlina (que vale US$ 1,5). Outro problema são as contribuições à União Européia. Estima-se que cada britânico dê o equivalente até cinco libras (US$ 7,50) por semana aos europeus, o que não agrada a ninguém e que acaba se tornando alvo de constante crítica na (cada vez maior) imprensa antieuropéia do Reino Unido. Texto Anterior: Moeda única ameaça criar duas Europas Próximo Texto: Surgem os "eurohistéricos" Índice |
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