São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 1996
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Agência dos EUA vê BB privatizado

Prejuízo assusta o mercado

IGOR GIELOW
DE LONDRES

O prejuízo do BB (Banco do Brasil), maior banco da América Latina, assusta o mercado financeiro internacional -que já prevê sua privatização a médio prazo.
A venda seria a forma de sanear seu déficit, que foi de R$ 4,25 bilhões em 95 e já chegou a esse valor no primeiro semestre de 96.
A avaliação está no relatório "Risco Sistêmico no Sistema Bancário Brasileiro", da agência norte-americana Standard & Poor's.
O estudo da agência, que faz "rating" (classificação) de bancos, foi publicado nesta semana e divulgado nos mercados financeiros da Europa e nos EUA.
A situação do BB, que necessitou de R$ 8 bilhões de injeção do governo neste ano, é "preocupante".
"A fraqueza dos bancos estaduais era conhecida, mas o anúncio sobre o BB deixou investidores surpresos", diz o relatório.
A privatização, segundo a Standard & Poor's, é dada como certa por "fontes" não-identificadas.
Segundo a agência, o sistema financeiro brasileiro é o mais arriscado na América Latina. O mais seguro é o chileno.
Proer
O Proer, programa do governo federal para salvar instituições financeiras em dificuldades, que já gastou mais de US$ 10 bilhões desde 95, é elogiado pela agência.
"Para o investidor, é lógico que a existência de um sistema como esse é sinal de que algo pode não ir bem", disse à Folha, de Nova York, John Chambers -um dos autores do relatório.
"Porém, o Proer e o seguro de depósito são sinais de alguma segurança ao mesmo tempo. É melhor investir onde há hospitais (financeiros)."
Crises como a do Banco Econômico (agosto de 95) e do Nacional (novembro de 95) poderiam ter sido evitadas, diz o relatório.
A agência diz que a situação de risco para os correntistas já era conhecida no mercado internacional desde o fim de 1994.
"A intervenção no Banespa, em 1994, deu a impressão (para investidores estrangeiros) que todos os grandes bancos no Brasil não iriam falir. Esse ponto de vista não foi compartilhado por nós, que alertamos para o risco de crise."
Estrutura familiar
Para Chambers, a estrutura familiar dos bancos é um dos principais fatores para crises. Segundo o relatório, o fato de famílias controlarem os bancos facilita o surgimento de fraudes.
A estrutura familiar, além de centralizar as decisões, impede a identificação de desvios administrativos que não ocorreriam em empresas de administração profissional, diz o estudo.
Mas nem todas são más notícias. O país é visto, "caso supere as dificuldades", como futuro líder continental em sistema bancário.
Além disso, a classificação do Brasil em termos de crédito de moeda local e débito externo subiu um ponto na escala da agência.

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