São Paulo, sexta-feira, 28 de junho de 1996
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Revive a lenda do Studio 54

Anos 70 têm mais um retorno

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Burn, baby, burn. O Studio 54 está de volta. O lendário clube noturno é um dos hypes do momento dentro da indústria de entretenimento, comportamento e cultura dos Estados Unidos, respingando, assim, em todo o mundo.
Os 33 meses de existência do clube que mudou a noite de Nova York -e, de novo, do mundo- inspiram a realização de filmes, roteiros, livros, reportagens, moda e seus editoriais.
Ano que vem, no dia 26 de abril, comemoram-se 20 anos desde a abertura da casa, instalada num antigo estúdio da rede de televisão CBS, no número 254 da rua 54 (do lado oeste da cidade), entre a Sétima e a Oitava avenidas.
Em novembro de 96, mais precisamente no Dia de Ação de Graças, o orgiástico prédio dá lugar a um mais-que-família centro de entretenimento de realidade virtual, batizado de Cyberdome.
Foi há um mês que seu interior viu os últimos reflexos da luz estrobo. A emissora de rádio de NY WKTU, especializada em dance music, fez uma megafesta de encerramento com show de uma das divas da época, Gloria Gaynor, junto a shows de divas de hoje, como RuPaul e Crystal Waters.
Os fundamentos
O Studio 54 deu origem aos principais fundamentos da cultura club, tal qual nós a conhecemos hoje. O clube detonou o hedonismo, o culto ao prazer, antes dos tempos sombrios instalados com a Aids, na virada dos 80.
Os Estados Unidos saíam da depressão pós-Vietnã; a ordem era a diversão. O dinheiro propiciava riqueza, glamour e drogas, todos consumidos sem culpa.
Esses requisitos, no ambiente propício a eles que era o Studio 54, originaram outro item básico da vida dos clubes: o "dowhatchalike", ou faça-o-que-quiser.
Dentro do clube as pessoas se sentiam seguras e estimuladas a fazer o que lhes desse na cabeça. O bissexualismo entrava na moda.
"Door policy"
Os mentores do Studio 54 eram Steve Rubell e Ian Schrager. Rubell era a parte extrovertida e social, enquanto Schrager era o introspectivo produtor que cuidava para que as coisas andassem no lugar.
À sua frente, uma multidão, na porta, esperava ser escolhida para passar pela lendária cortina de veludo vermelho -até isso foi copiado em todo o mundo.
Quem
Todo mundo que importava. E isso em Nova York... De Gina Lollobrigida a Moshe Dayan, de O.J. Simpson a Diana Vreeland. Liza Minelli, Halston, Yves Saint Laurent, Paloma Picasso, Anjelica Huston, Jerry Hall, Lauren Hutton, Iman, Diana Ross, Farrah Fawcett, Calvin Klein, David Geffen, Deborah Harry. Travestis, clones e drag-queens. A era das celebridades de um nome, como se convencionou dizer.
Todo mundo da Factory de Andy Warhol ia lá, incluindo o próprio Warhol. Quando ele não ia, na manhã seguinte estava ao telefone perguntando quem tinha ido. Para quem não estava quando ele estava, dizia que tinha sido "a melhor noite de todas".
Como
A cocaína era a droga que deu o tom do Studio 54 e dos anos 70 como um todo. A decoração da casa já entregava tudo: uma lua cheirando sobre uma colher pairava sobre a pista.
Comprimidos de "quaalude" eram distribuídos à chegada, por Rubell. No restrito porão, comprava-se cocaína livremente. Andy Warhol não cheirava cocaína; consumia speed, mais em alta entre os membros da Factory.
Hétero, gay, bissexual, valia tudo. A ordem era pegar alguém. Havia gente sobre os balcões dos bares, nas escadas de incêndio e, principalmente, nas históricas orgias do porão, onde a imprensa era proibida de entrar. Os rapazes do bar faziam as vezes de go-go boys, dançando ao entregar as bebidas.
O quê
Numa festa, foi montada uma pequena Pequim, com as pessoas mais importantes carregadas em liteiras. Na festa de Dolly Parton foi recriada uma fazendinha, com porcos e ovelhas vivos.
No aniversário de Bianca Jagger, produzido por Halston, um homem pintado de purpurina prateada cavalgava um pônei, junto a Bianca como uma Lady Godiva.
Já no aniversário do estilista Valentino, foi instalada uma arena de circo com areia e tudo, com sereias em trapézios em figurinos emprestados por Fellini.
No aniversário da socialite Carmen D'Alessio, uma brigada dos Hell's Angels acelerava suas motos de dentro da pista. No aniversário de Elizabeth Taylor em 78, o bolo era um enorme retrato da atriz -o qual ela cortou a primeira fatia sobre seus seios.
O fim
Em 14 de dezembro de 78, trinta agentes entraram no clube e encontraram no porão sacos de lixo cheios de dinheiro, cocaína e notas fiscais escondidas. Estimava-se que o Studio 54 dava US$ 70 mil por noite e que seus donos já haviam sonegado US$ 2,5 milhões.
Rubell e Schrager foram presos, pagaram fiança de US$ 50 mil cada e saíram no dia seguinte. Em janeiro de 80 foram finalmente condenados a três anos e meio de prisão. A 2 de fevereiro, o clube fechou.
Liza Minelli cantou "New York, New York" na festa de despedida.
Rubell andava mal da cabeça, sob efeito de excesso de drogas. Morreu em 89, com Aids. Schrager hoje é um dos proprietários dos hotéis Delano, em Miami, e Royalton, um dos hypes de Nova York.

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