São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
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"Alemães" e "franceses" travam disputa

IGOR GIELOW

em Genebra
Apesar do extremo liberalismo na hora de votar e da tradicional imagem de uma sociedade quase perfeita, há profundos contrastes entre os cantões suíços.
Cerca de 70% da população é de origem alemã, dominando culturalmente um país que tem quatro línguas oficiais: o francês, o italiano, o alemão e o romanche, dialeto falado no cantão de Grison.
Outros 20% são de origem francesa, e têm sua "capital" em Genebra -conhecida como a "cidade mais neutra do mundo", sede de várias entidade internacionais.
Os 10% restantes se dividem em suíços italianos e imigrantes.
Os suíços alemães e os suíços franceses, diplomaticamente falando, não nutrem admiração mútua.
Entre os de origem alemã, os franceses são conhecidos como os "detrás dos montes" (por ocuparem a parte sudoeste do país, após os Alpes).
Em Genebra, é comum o suíço alemão ser chamado de "bárbaro" para baixo.
A rivalidade se torna patente em termos político-econômicos. Em 1992, houve um plebiscito sobre a entrada da Suíça na União Européia. No lado alemão, a maioria votou contra. No francês, a favor.
Como os alemães são maioria física, o pequeno país manteve sua posição de neutralidade total no mundo -exceto pela tardia adesão ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial, ratificada em 1992.
Além do orgulho nacional, há motivação econômica. O poderoso sistema bancário é em sua maioria controlado pelos alemães.
Fora da Europa
Dentro da UE, teria que se adaptar às normas européias de operação e, por exemplo, quebrar parte do seu sigilo total. Com efeito, após a rejeição da entrada na UE houve crescimento de 60% nas operações bancárias suíças.
Além disso, as principais empresas do país estão no lado alemão, assim como a capital, Berna.
No lado suíço, a economia é extremamente integrada com a do sul da França, o que favoreceu o voto pró-Europa.
É comum o morador de Genebra fazer compras em alguma cidadezinha francesa da fronteira, a menos de 5 km. Isso causa um problema, já que os produtos franceses são mais baratos que aqueles vendidos na Suíça.
Para evitar desestabilização interna, a Suíça mantém um rígido controle: cada suíço só pode comprar um quilo de queijo na França, por exemplo, avisam tabelas nos supermercados franceses próximos à fronteira.
O resultado são cenas pitorescas: elegantes senhoras suíças tendo seus BMWs revistados até no porta-malas por guardas atrás de "excesso alfandegário".

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