São Paulo, terça-feira, 2 de julho de 1996
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Descaso com idoso pode causar caos

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O crescimento acelerado da população com mais de 60 anos nos países em desenvolvimento poderá criar caos econômico e social se os governos não começarem a se preparar desde agora para dar atendimento aos idosos.
O alerta foi feito ontem pelo médico brasileiro Alexandre Kalache, chefe da Divisão de Envelhecimento e Saúde da OMS (Organização Mundial da Saúde), durante o Seminário Internacional de Envelhecimento Populacional, organizado pelas Nações Unidas.
"O perfil da população dos países em desenvolvimento está mudando muito rápido. Quem não começar a se preparar agora, vai enfrentar uma situação caótica a partir de 2020", disse Kalache.
O seminário reúne até amanhã, em Brasília, 44 especialistas em geriatria e política de saúde.
O Brasil, que tem hoje cerca de 11 milhões de idosos, passará a ocupar a sexta posição, com 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos -cerca de 15% da população.
Segundo Kalache, os países em desenvolvimento terão dificuldade para se adaptar à mudança do perfil etário de sua população porque, além do crescimento ser muito rápido, essas nações continuarão vivendo na pobreza.
"Os países desenvolvidos tiveram muito mais tempo para se preparar para o envelhecimento da população e, ainda assim, enfrentaram dificuldades. E eles já eram ricos quando ocorreu a mudança no perfil etário", disse.
Na França, por exemplo, os idosos passaram de 7% para 14% da população em 117 anos. No Brasil, a mesma transformação acontecerá em 26 anos.
O maior desafio a ser vencido pelos países pobres, segundo Kalache, é o aumento dos gastos com previdência social e saúde.
Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde apontou que os gastos com saúde dos idosos chega a ser nove vezes maior que o gasto com a população até 14 anos.
"O EUA -que são uma das maiores economias do mundo- estão tendo sérias dificuldades para pagar benefícios e dar assistência médica aos idosos. Imagine quando países como o Brasil e o México tiverem o mesmo número de velhos que os EUA têm hoje? Será um caos", alerta Kalache.
Abertura
O seminário foi aberto ontem pela manhã, em Brasília, e contou com a participação da primeira-dama Ruth Cardoso, do vice-presidente Marco Maciel e do ministro Reinhold Stephanes (Previdência).
Também foram convidados a participar da abertura do seminário o bicampeão olímpico de salto triplo, Ademar Ferreira da Silva, e a nadadora Oscarina Machado Santos, 83.
Oscarina ganhou três medalhas de bronze no mundial de natação master, realizado no mês passado, na Inglaterra. Ela começou a praticar esportes aos 73 anos.
Ruth Cardoso conversou com Ademar da Silva e Oscarina e posou para fotos ao lado deles.

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