São Paulo, quinta-feira, 4 de julho de 1996
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Palhares diz ter 'coisas que podem mudar os rumos'

EMANUEL NERI
ENVIADO ESPECIAL A MACEIÓ

Um dia depois de dizer que há "fortes indícios" de confirmação da tese de homícidio seguido de suicídio no caso da morte de PC Farias e de sua namorada Suzana Marcolino, o legista Fortunato Badan Palhares, da Unicamp (Universidade de Campinas) disse ontem haver "coisas novas que podem mudar o rumo dos fatos".
Misterioso, Palhares não quis adiantar os fatos que podem alterar as conclusões sobre o crime. Afirmou haver "muitas dúvidas" sobre detalhes envolvendo a morte de PC e de sua namorada.
Segundo ele, os novos fatos foram descobertos na autópsia que fez anteontem nos dois cadáveres.
Palhares deu essas declarações no avião em que viajou na tarde de ontem entre Maceió e São Paulo. O legista foi lembrado de que na entrevista dada anteontem, após a autópsia, afirmara ter "poucas dúvidas" sobre o fato de Suzana ter mesmo se suicidado após matar PC. "Falei, sim. Mas o caso não é só o de Suzana", respondeu.
'Coisas novas' e 'falhas'
"A exumação mostrou coisas novas", afirmou. Mas disse que só divulgará a conclusão de seu laudo no final deste mês. Ele pretende voltar a Maceió para divulgar o resultado da investigação.
Palhares reconheceu ter "havido falhas" na perícia feita no local do crime. Uma delas foi a queima de lençóis e do colchão manchados de sangue. Ele também se queixou do fato de a polícia não ter feito testes da presença de pólvora nas mãos dos seguranças de PC.
Palhares falou de dúvidas sobre a posição exata em que PC foi morto. Ele acha que o empresário foi atingido pelo tiro quando estava deitado. Mas não tem certeza se foi na exata posição revelada pelas fotos tiradas no local o crime.
Outra dúvida é a posição em que Suzana foi encontrada. O revólver estava do seu lado esquerdo, quando deveria estar do lado direito -Suzana não era canhota. A posição em que estava deitada na cama também levanta suspeitas.
Ele também acha "estranho" o fato de PC não ter sangrado pela boca ou nariz. Da mesma forma, não havia sangramento no local em que a bala o atingiu.
Segundo Palhares, todas essas dúvidas só serão respondidas com a conclusão de exames histopatológicos -estudo em microscópio de fragmentos retirados de PC e Suzana durante a autópsia.
Bagagem
Na bagagem que trouxe de Maceió, Badan Palhares dedicou cuidado especial a uma pequena maleta. Revestida de metal, ela trazia os fragmentos de órgãos de PC e Suzana retirados na autópsia.
Segundo Palhares, trata-se de pequenos fragmentos de peles, pulmões, rins, brônquios e artérias. Esses fragmentos são uma espécie de "mina" para que o legista resolva muitas de suas dúvidas.
Palhares não quis que a maleta fosse despachada. Um de seus auxiliares ficou o tempo todo com ela. Uma outra mala, bem maior, trazia material retirado do local do crime, como um pedaço da parede de madeira por onde atravessou a bala que matou Suzana.

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